sexta-feira, julho 16, 2004

de caras



ciclicamente aparece o desafio, está na época das touradas, e os verdadeiros amigos não se esquecem dos nossos amores.
assim um desses amigos, que pegamos de caras para a vida, insiste em desafiar-me a discutir a tourada à portuguesa.
em Agosto ela estará de regresso a Penafiel, substituindo uma maricagem americana qualquer que o ano passado se lembraram de contratar, estará de volta o Joaquim Bastinhas como cabeça de cartaz.
lá estarei, não importa sol ou sombra, camarote ou peão.
cá fora estarão os do costume, os tolerantes, os democratas da nova esquerda, os manifestantes do SMS.
entre tábuas estarão séculos de história, de cultura, de Portugal. querer negá-lo é querer negar a nossa identidade.
eles que pendurem as bandeirinhas que quiserem nas janelas, que o país continuará a vibrar com as verónicas, as chicuelinas, muletazos, os curtos, os compridos e as estocadas certeiras.
os pseudo-ambientalistas podem ir ensaiando a caligrafia para desenhar os cartazinhos do costume, que eu quero lá saber. não me chateiem. barafustem, urrem, gritem, mas não me incomodem.
montem o circo com os lencinhos palestinianos, os pregos nas sobrancelhas e o ar de meninas e meninos escanzelados pouco dados ao banho, que eu até acho engraçado, uma espécie de manifestação peripatética.
Para os amantes da festa brava, não percam no próximo dia 24 de Julho em Lousada, uma grande corrida com o João Cerejo e o Joaquim Bastinhas.

museu de cera IV e V


comunidade urbana

ontem ganhou corpo a primeira comunidade urbana. nasceu em Lousada e agrupa seis municípios do Vale do Sousa. no discurso de tomada de posse o presidente da comunidade fez questão de reafirmar que este novo modelo de administração depende muito da vontade dos representantes concelhios, assim como dos governantes e responsáveis pela administração central.
Ora é sobre os primeiros que recai a maior das preocupações. é certo que estás nas mãos dos governantes o crescimento desta nova estrutura, já que podem desconcentrar centros de decisão para estes organismos. Ninguém nunca apresentará serviço se não lhe derem alguma coisa para fazer, bem como os meios.
mas coloca-se também a questão quererão todos remar na mesma direcção e no mesmo compasso. receio bem que não. o Vale do Sousa atravessa um momento, em tudo similar ao dos dois grandes partidos, de transição geracional. há no entanto um dos concelhos onde essa transição, para já, emperra. Paredes será, provavelmente, o último concelho dos seis a perceber que novos tempos se avizinham.Enquanto que nos restantes parceiros de Comunidade há um discurso concêntrico em torno dos interesses de uma região, em Paredes a modinha continua a ser a do "bate o pé".
Paredes tem, neste momento, o único executivo camarário que exercita o discurso bacoco e bolorento do "somos os líderes, um concelho capital, somos os mais e os maiores". ora bem sabemos que quem se arroga à grandeza, geralmente é porque não é tão grande quanto isso e deseja ouvir repetida a mentira, num exercício de auto-convencimento.
a derrota do executivo paredense na eleição para a presidência da assembleia geral da Valsousa, assim como a derrota para a eleição da presidência da junta, são os exemplos cabais de que os restantes municípios já não têm grande pachorra para os dislates paredenses.
infelizmente são estas ancoras que podem fazer com que o barco não navegue a todo pano, ficando o barco a uns escassos metros do cais.
é tempo da embarcação perder lastro.
os protagonistas e as mentalidades estão em franco rejuvenescimento, os concelhos que não perceberem isso ficarão para trás.
neste momento há quem trave a marcha, mas será que os restantes municípios quererão andar a passo de caracol em constantes demonstrações de força entre autarcas, ou preferirão deixar para trás quem se delicia com guerras de alecrim e manjerona.
em Paredes é preciso sangue novo. sim, novo!

quinta-feira, julho 15, 2004

museu de cera II e III





uma excepção

num momento em que se agudiza a falta de confiança na classe política contemporânea, devemos parar e olhar para os exemplos a seguir.
Penafiel tem uma dívida por saldar com um dos mais sérios e honestos políticos que já conheci: Justino do Fundo.
suponho que esta opinião é praticamente consensual em Penafiel e no Vale do Sousa, algo de muito raro nos dias que correm.
os políticos que com ele se cruzaram só lhe apontam a defesa intrasigente da sua terra, como defeito.
aqueles que se habituaram a vê-lo como presidente da Câmara não se esquecem da franqueza e correcção com que cumpriu os seus mandatos. concorreu por vários partidos e terminou a candidatar-se como independente. no meu entender terminou da melhor maneira, concorrendo como sempre foi, independente.
Justino do Fundo é um Senhor. Penafiel está a falhar ao não o ter homenageado como deve. Penafiel tem a obrigação moral de o agraciar com a medalha de ouro da cidade. Penafiel tem de o fazer isoladamente, longe de uma maralha de homenageados escolhidos a granel para encher uma cerimónia.
Justino do Fundo merece toda a atenção voltada exclusivamente para si. A próxima cerimónia de comemoração do aniversário da cidade deve homenagear uma das suas referências.
há momentos, mais especiais do que outros, para dizer obrigado e a cidade não pode deixar fugir este momento.
é agora!

quarta-feira, julho 14, 2004

museu de cera I



nem podia ser de outra maneira



por muito que isso custe a alguns, poucos, socialistas, bloquistas e afins, este é o nosso novo primeiro-ministro.
como já antes tinha escrito, esta era a única saída para Jorge Sampaio. não podia ser de outra forma. uma ideia que, mais tarde, Ferro Rodrigues e Ana Gomes
fizeram questão de reiterar com os disparates a que já nos habituaram.
a maior parte dos militantes socialistas há muito que queriam ver Ferro da porta para fora, já ninguém suportava tanta falta de jeito para a função. Só o Bloco e o PCP sonhavam com as eleições. Uns e outros acreditavam que o actual clima de contestação e a fragilidade rosa trariam benefícios.
felizmente este é ainda um país habitável, onde os sonhos estalinistas de uma minoria, não passam de um capricho de um povo tolerante. a materialização do bloco de esquerda é a demonstração cabal de que os portugueses se adaptam com facilidade à excentricidade, aprendem a conviver com ela naturalmente. daí até à conversão...vai uma larga e longa distância.
daqui para a frente teremos um governo necessariamente diferente do de Durão Barroso. não sei o que são populismos. não sei se dizer que a "democracia está em risco" é um acto de populismo. não sei dizer se assumir a decisão do presidente da república como uma "derrota pessoal" é uma manifestação populismo.
o que sei é que a esquerda de circo, uma esquerda que sonha com uma qualquer selva distante onde se organizem guerrilhas e insurreições.
ao governo, que dia 19 tomará posse, é pedido um enorme esforço. que apresente trabalho em dois anos. uma coisa é certa seja qual for o resultado das políticas que apliquem terão pela frente uma das oposições mais extremistas de que há memória.
durante dois anos teremos o refugo do 25 de Abril a espernear. depois admiram-se que António Vitorino afirme que há coisas que não sabe ou não quer fazer. há muito que o ar, na política portuguesa, se tornou irrespirável. nos próximos tempos não há previsões de melhoras, mas ao contrário de muitos eu acredito que o hálito a enxofre saia das bocas da oposição extremista.
a ver vamos.

terça-feira, julho 13, 2004

vem um e já bem gasto



e se só vier este?
e se os nomes tão falados, e nunca veementemente negados, não chegarem. como é que se vão gerir as expectativas criadas e alimentadas por uma inanição confortável.
porquê estar a negar, se o facto de toda a gente falar nos craques passa a imagem de um clube com grandes capacidades. porquê parar a roda viva de notícias sobre aquisições brilhantes.
e depois. depois há a mantinha que o ano passado quase não dava para cobrir um corpinho frágil e este ano vai ter de se superar.
fora isso há um jogador com 35 anos. e há mais meia dúzia com 32 ou 33. e depois há os outros. e os outros não chegam.
e depois vamos ter um jogo de aflitos, como o jogo final contra o Leixões, a época pasada. reeditamos um presidente a dar ordens para os jogadores no túnel dos balneários, um capitão que abre os braços e diz não entender e uma enorme sensação que tudo está preso por fios muito finos.
uma coisa é certa: o que será, será muito profissional.

o profissionalismo

"o nosso principal objectivo passa por dotar o clube de uma estrutura directiva profissional", a afirmação é de António Oliveira, a respeito do FC Penafiel.
Só é pena que no mesmo dia, à mesma hora e no mesmo local uma muito pouco profissional máquina fotocopiadora tenha desistido de trabalhar.
O suficiente para que a muito profissional direcção clubística não pudesse fornecer uma mísera folha com os nomes dos jogadores do plantel.

"País engravatado todo o ano
e a assoar-se à gravata por engano."

Alexandre O’Neill, que se calhar não conhecia Penafiel

a vida é original. o resto é cópia



ela despiu-se. do alto do seu metro e noventa, tomba o vestino negro. ele espera deitado na cama "duplo casal", de uma "suite gran luxo especial". ela gatinha, desde os pés da cama, pelo seu corpo a cima. sorri e morde o lábio.
ele, perante tanta beleza, não resiste:

-"vamos tomar uma águinha?"

o homem que copiava...poesia

acabei de ver um filme. eu sei que são onze horas de terça-feira. mas há filmes assim. que chegam ninguém sabe de onde e se alojam como se fossem a nossa vida. num momento de suspensão vivi com um homem que copiava.
"o homem que copiava" é um filme de Jorge Furtado. o mesmo que realizou as curtas-metragens "A ilha das flores" e "Barbosa".
este é um filme sobre o tempo e sobre a sua poesia.
e é um filme com poesia. poesia assim.

"Quando a hora dobra em triste e tardo toque
E em noite horrenda vejo escoar-me o dia,
Quando vejo esvair-se a violeta, ou que
A prata a preta tempora assedia;

Quando vejo sem folha o tronco antigo
Que ao rebanho estendia sombra franca
E em feixe atado agora o verde trigo
Seguir o carro, a barba hirsuta e branca;

Sobre tua beleza então questiono
Que há de sofrer do Tempo a dura prova,
Pois as graças do mundo em abandono
Morrem ao ver nascendo a graça nova.

Contra a foice do Tempo é vão combate,
Salvo a prole, que o enfrenta se te abate."

William Shakespeare

sexta-feira, julho 09, 2004

por aí


"não sei para onde vocês vão. eu sei que eu vou por aqui. hasta."

Ferro quer maioria absoluta

não drº Ferro!
como diria Millôr "o senhor será sempre lembrado como o homem que, no momento inoportuno, no tom inadequado, no local impróprio, com roupas inconvenientes, disse coisas inqualificáveis".
por isso

quinta-feira, julho 08, 2004

obviamente demite-se III

se forem convocadas eleições antecipadas, a bem da estabilidade, e o resultado ditar que fica tudo na mesma ou pior, o senhor presidente......

obviamente demite-se II

se forem convocadas eleições antecipadas e o resultado ditar uma vitória minoritária ingovernável, o senhor presidente......

obviamente demite-se

se forem convocadas eleições antecipadas e o resultado ditar uma nova vitória da actual maioria, o senhor presidente.....

a bem da estabilidade

o bloco de esquerda já manifestou toda a sua sua disponibilidade para apoiar um governo socialista. tudo em nome da fraterna estabilidade. mas da estabilidade deles. aliás depois de tantos meses em que o BE levou o PS à boleia, no parlamento, já era tempo de se retribuir a gentileza.

quarta-feira, julho 07, 2004

a dois dias

sexta-feira o FC Penafiel apresenta o plantel para a Superliga. dentro de 48 horas saberemos quais as vedetas que em tão denso secretismo estão guardadas para uma época que se imagina de sufoco.
acredito que o clube viverá uma época em sereno desafogo. da mesma forma que sempre afirmei que o Penafiel subiria à Superliga logo na primeira tentativa, também agora vaticino uma época forte. acredito que os esforços que estão a ser desenvolvidos visam, não uma época de luta pela manutenção, uma época de luta pelo sexto a sétimo lugar.
para António Oliveira o FC Penafiel é um ponto de passagem, espaço para ganhar o embalo necessário à conquista da presidência de um outro clube.
por isso não admira que, sexta-feira, nomes como os de Lourenço, Pedro Santos, Drulovic, Capucho ou o mítico Super-Mário Jardel, sejam apresentados no municipal 25 de Abril.
restará saber se a cidade quer andar assim tão depressa, sem grande tempo para consolidar as suas estruturas.
será que chegam os craques ou será necessário mais qualquer coisa.
ascensões metóricas redundam muitas vezes em quedas abruptas. Famalicão, Tirsense, Portimonense, são só exemplos.
será importante que o clube corra depressa, mas esta é uma corrida de equipa. deixar para trás a cidade, as suas instituíções, órgãos de comunicação social e simpatizantes, será o princípio do fim.
Numa cidade com tanta história não é um êxito fugaz que faz a diferença. Penafiel não deixará de ser o que é se não estiver na Superliga, por isso olha com sábio distanciamento estes novos profetas do desenvolvimento que invariavelmente olham com desdém, cheios que estão de certezas inabaláveis.

os desejados será que "chegam"?


parabéns



o entre pedras palavras está de parabéns, um aninho de blogosfera.

domingo, julho 04, 2004

ninguém as quer

no fundo, no fundo, ninguém as quer. falo das eleições. o PSD e o PP por razões óbvias fogem delas como o diabo a cruz. já o PS vai dizendo que elas são indispensáveis, com uma uma muito pouco convincente convicção. isto porque, no fundo só Ferro Rodrigues quer ir a votos. José Sócrates, António Vitorio e companhia limitada, sabem que se houver eleições, a breve trecho, será Ferro o cabeça de lista, com reais possibiliades de vitória.
Ora nenhum deles quer ver Ferro a primeiro-ministro, seria o hipotecar de uma vitória em congresso, de uma conquista da liderança e de uma lista nas próximas legislativas em 2006.
Para o PS de António Costa, Sócrates, Lamego, Vitorino e Soares (filho), a vitória de Ferro em eleições antecipadas seria o pior dos cenários.
Preferem que Ferro oxide um pouco mais e então, sim, preparar um verdadeiro choque de titãs para 2006.
Se ninguém as quer, como é possível que Sampaio as convoque?

um mergulho no fundo do mar

Fundo do Mar

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andressen

um beijo para Sophia

"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."

Sophia de Mello Breyner Andressen, "Grades", 1970