terça-feira, maio 31, 2005

uma solução séria para o deficit

muito se tem discutido sobre as áeas de intervenção do governo para reduzir a despesa do Estado. até ao momento quase não ouvi falar sobre uma das medidas mais acertadas e justas: a redução do número de autarquias.
sendo este um país pequeno, justifica-se a existência de mais de 300 autarquias?
claro que não. muito pouparia o Estado se acabasse com cerca de 25% das Câmara Municipais existentes.
para esse peditório o Vale do Sousa pode contribuir reduzindo para metade as autarquias existentes.
tudo quanto é feito hoje, poderia ser concretizado com maior eficiência e eficácia, com metade das edilidades.
se Penafiel e Paredes se unissem num só concelho, teríamos um território e uma população tão governável como Matosinhos, Gaia ou Maia.
Castelo de Paiva será que faz sentido existir "per si"? e Lousada? a lógica instituída de criar concelhos a torto e a direito para responder aos "anseios" das populações.é a mesma lógica que leva à criação de cidades sem pés, nem cabeça, como é o caso de Paredes, que já conta com uma meia dúzia de "cidades" de meia tigela.
o Vale do sousa será apenas um exemplo. Braga tem outros seis concelhos, que poderiam ser reduzidos a três. e por aí fora.
acredito mesmo que bem vistas as coisas, e feitas as contas, conseguiríamos reduzir as Câmaras Municipais para metade. reduzindo as tentações empregadoras em época de eleições, unificando serviços tornando-os mais eficazes (como os serviços de águas e saneamento), apostando numa melhor rentabilização e gestão dos equipamentos (piscinas, teatros, pavilhões, etc).
estou certo que as pessoas dos concelhos diluídos prefeririam pertencer a um concelho com dimensão, a continuar em pequeninas coutadas, geridas por caciques sem visão.
se ao nosso país falta dimensão, às nossas autarquias falta olhos na cara. mas enfim isto está mais para criar o concelho de Canas de Senhorim, do que para reduzir a malha autárquia que nos prende a atrasa.
o importante mesmo continuará a ser o que diz a canção:


"E é porque meu pai tinha um parente
Que era amigo de um soldado
Que morava em frente à casa de um vereador"

Falcão

sim, sim, siiimm

sinceramente não percebo como pode haver tanto defensor do "não", neste país. é certo que somos um povo atreito ao negativismo, mas, ainda assim, considero que as questões de índole cultural e comportamental não devem explicar tudo.
nesta fase em que meio mundo, ...pronto um bom bocado do mundo,...ok, um nico do mundo, ou seja, ... meia dúzia de maduros neste mundo se preocupa com o "não" fracês, os portugueses deveriam manifestar-se ruidosamente a favor do "sim".
não há melhor argumento do que este número: 6,83. este é o nosso número da besta, bem superior ao famoso 6,66.
6,83 é a prova de que não nos sabemos governar, logo que nos governem por ajuste directo. que criem a mais federal das federações e nos encaminhem definitivamente.
este país não será pior se for governado por alemães, ingleses ou, suprema das sortes, por suecos.
o raciocínio é simples e linear. se, efectivamente, os problemas com a matemática são tão profundos e transversais, desde os primeiro-ministros até aos bancos do primeiro ciclo do ensino básico, vamos assumir isso. somos muito maus com contas. não temos paciência para os números. lidamos mal com abstracções.equacionamos mal o nosso presente e temos pouca capacidade de perspectivar um futuro.
se isso não bastasse temos a incontornável questão do turismo. dizem os entendidos que é o nosso futuro. se assim é, não restam mais dúvidas, entreguemos isto em definitivo à Europa, eles que nos organizem como quiserem, que nos governem pelo melhor, que adaptem a geografia lusa ao que lhes der mais jeito.
podemos ser a Acapulco da Europa. entreguem as chaves dos palácios de S. Bento, das Necessidades, vamos concessionar isto tudo...pior não ficará, de certeza.

quarta-feira, maio 25, 2005

gente que investe e não morre




para o Vitor

a ignorância em torno do País basco, fez com que todos , quantos me rodeiam, tivessem insistido para que desistisse da ideia de ir passar férias para a "terra da ETA".
num mundo em que as ideias são, cada vez mais, alicerçadas pela comunicação social, as notas sobre os sucessivos atentados bombistas criaram uma imagem do país basco, relativamente próxima de Gaza.
a realidade é outra. a realidade é a de um país com carácter. há uma terra com fronteiras delimitadas. há um espaço mental chamado Euskadi. quem lá chega sente que há muito mais do que Espanha nesta península. ainda que não sirva de exemplo, cheguei pela primeira vez a Pamplona em pleno arranque das famosas festas de San Fermín.
Não há nada que se compare com aquela onda branca e vermelha, regada a vinho e alimenta por pinchos e bocadillos.
o melhor retrato que guardo daquela nação é o de uma Praça Consistorial a rebentar pelas costuras. sentei-me num belíssimo sol. passei por músico de uma das peñas(pequenas bandas de bairro que tocam uma música contagiante e com enormes influências célticas).
desde o primeiro minuto que milhares de bascos vestidos com batas e impermeáveis mergulhavam e regavam os restantes com sangria. como Hemingway tão bem sabia, por aqueles lados o vinho corre com rapidez e alegria. entre o quarto e o quinto touro a música, até então imparável, serena e começa a segunda parte da orgia. há comida para toda a gente. abrem-se sacos com refeições comunitárias. um casal de desconhecidos estendeu-me um prato e talheres. tinha sido elevado à condição de visita da casa. comi sopa, bifes, peixe, panados de arroz, bolos, café e chocolates. tudo regado com sangria e muita cerveja.
há como que um estranho complot para que se apanhe uma bebedeira colectiva e universal.
a festa, por aqueles lados, parte das bancadas para a praça. aí vi touros a ajoelhar e cair. vi o sangue que lhes corria no lombo. o mesmo que os bascos tentam substituir por vinho, durante dez dias.
nenhum povo tem mais legitimidade para a festa brava do que os bascos. ninguém sabe o que é investir com toda a força sobre o inimigo, nem que para isso tenha de entregar a vida.

quinta-feira, maio 19, 2005

a terra média

o Paulo F Silva colocou este blog pelas Ruas da Amargura, o que, dadas as circunstâncias, é uma subida honra.
diz ele que Penafiel é uma terra do interior, ainda que fique perto do Porto. um espaço onde os forasteiros, ou na versão contemporânea, os turistas de ocasião, não conseguem comprar um jornal numa qualquer manhã de sábado.
aqui é que bate o ponto. Penafiel é mais do que um espaço geográfico, é uma coordenada mental. encravado entre o litoral e o interior, Penafiel é a Terra Média.
JRR Tolkien pensou, de certeza, em Penafiel quando escreveu o Senhor dos Anéis. na realidade ninguém pode dizer que a terra existe, ainda que existam relatos e provas espectrais desse universo.
ali, aliás, aqui as regras são outras, as unidades são diferentes e as personagens são únicas. só aqui poderiam existir gangs-familiares de peixeiros, a 50 km do mar. só aqui é que há bordéis em contentores, encravados no meio do mato. mas também é aqui que as crianças trabalham nas pedreiras. como diz o ditado quando a criança não vai à pedreira, vem a pedreira ao encontro da criança, em pedaços de granito que, de quando em vez, chegam a voar oriundos de um qualquer rebentamento.
é aqui que os vizinhos resolvem os diferendos com velas de dinamite à porta das garagens. é aqui que não há escolaridade para todos. é aqui que as pessoas menos ganham. é aqui onde não há investimento, não há aopio ao desenvolvimento. é mesmo aqui onde estão algumas das indústrias menos qualificadas e com mais probabilidade de falir (texteis, mobiliário, calçado). é mesmo aqui que, dizem os especialistas, moram os economicamente deprimidos. cá não moram os moralmente deprimidos, aqui ninguém sabe o que é a angústia e o desespero do Kierkgaard, a moral mede-se com outras coisas. aqui ainda se fazem manifestações para pedir luz.
a viagem por aqui é sempre cheia de pedras e terrenos acidentados, ainda que povoada por criaturas extraordinárias (Presidentes da Assembleia da República, Procuradores Gerais da República, Seleccionadores Nacionais) e outras pouco mais que ordinárias.
é aqui, de certeza, que mora o Frodo. mora ele e uma quantidade imensa de outros hobbits em quem ninguém repara. vivem encravados entre o litoral e o interior. é como se vivessemos no separador central da auto-estrada, nem vamos para lá, nem de lá vimos. limitamo-nos a vê-los passar.
por aqui.

ps: com tanto entusiasmo esqueci-me de dizer que o Paulo tem de vir assistir à teimosia, ao vivo e a cores. já sabes é na Biblioteca ou no Bar do Lago.

o assobiador

depois da Nuvem do Rui chega Ondjaki de Angola. O lançamento do livro "E se Amanhã o Medo" que marca o regresso do Ondjaki ao conto, é o pretexto para uma conversa, como todas as outras sobre livros, poesia, prosa e África. desta feita deixamos as catacumbas da Biblioteca Municipal de Penafiel e vamos ver o sol a entrar pelas paredes de vidro do Bar do Lago. e é às 15.

o novo livro do Ondjaki ganhou, o ano passado, os prémios literários António Palouro e Sagrada Esperança e reúne uma vintena de contos agrupados em duas partes: "Horas Tranquilas" e "Conchas Escuras", duas expressões retiradas do livro "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar.

Ondjaki tem menos três anos que eu, e não concorda que o "Assobiador" é o seu melhor romance.
para além do livro de contos, lançou também o livro infantil "Ynari - A Menina das Cinco Tranças".
mas o "Assobiador" é bem melhor. ele está presente em antologias no Brasil, Uruguai e em Portugal.

a nuvem chegou




Chega amanhã à mão de todos quantos o desejarem. chama-se "A Nuvem prateada das Pessoas Graves" e é do Rui Costa. é dele até amanhã às 21.30. hora em que o vamos ouvir e ler. o Rui venceu o prémio Daniel Faria com este livro, e nós ganhamos um projecto e um poeta.
este ano teremos mais uma edição, a segunda, das 10 que já estão garantidas.
na Biblioteca Municipal de Penafiel, amanhã, às 21.30, vamos ouvir o Rui, a Cláudia (que gosta de dizer poesia) e vamos ouvir ainda as perguntas que se fizerem e as respostas que aparecerem.

ps: a dose repete-se no sábado, às 18, no Fórum Fnac do Norteshopping. a apresentação será da responsabilidade da professora Vera Vouga.

sexta-feira, maio 13, 2005

pensamento gay da semana

gostava de ser bailarina!

"Procurando bem
Todo mundo tem pereba
Marca de bexiga ou vacina
E tem piriri, tem lombriga, tem ameba
Só a bailarina que não tem
E não tem coceira
Berruga nem frieira
Nem falta de maneira
Ela não tem

Futucando bem
Todo mundo tem piolho
Ou tem cheiro de creolina
Todo mundo tem um irmão meio zarolho
Só a bailarina que não tem
Nem unha encardida
Nem dente com comida
Nem casca de ferida
Ela não tem

Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem?

Confessando bem
Todo mundo faz pecado
Logo assim que a missa termina
Todo mundo tem um primeiro namorado
Só a bailarina que não tem
Sujo atrás da orelhaBigode de groselha
Calcinha um pouco velha
Ela não tem

O padre também
Pode até ficar vermelho
Se o vento levanta a batina
Reparando bem, todo mundo tem pentelho...
Só a bailarina que não tem
Sala sem mobília
Goteira na vasilha
Problema na família
Quem não tem.

Procurando bem
Todo mundo tem..."

Edu Lobo e Chico Buarque/1982

bons rapazes II

é hoje às 21h, em 91.8. esta semana o "tudo bons rapazes" conversa sobre juventudes partidárias, Benaventegate, o aborto e a aventura do sr. Ivo Ferreira.
com a superficialidade do costume.

uma boa notícia

o Woody Allen e a Scarlett Johansson juntos, no mesmo filme.

"Match Point"

Sexta-feira 13, de Maio

com a "sorte" que tenho ainda me acontece um milagre.

quinta-feira, maio 12, 2005

que grande lata

o "cineasta/actor" Ivo Ferreira chegou ontem a Lisboa e garantiu aos portugueses que nunca gostou tanto de estar de volta a casa, como ontem.
depois de ter pregado a necessidade de uma acção informativa por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, sobre os países com legislação apertada e costumes menos brandos, o "cineasta/actor" pediu aos jornalistas que não fizessem desta história uma novela mexicana, alimentando-a "ad nauseum".
ora aqui é que entra a lata. então o sr Ivo vai para o Dubai fumar umas ganzas, ou melhor, dar umas pequeninas e ingénuas aspiradelas num cigarro aditivado com haxixe. é preso. os amiguinhos criam uma onda de solidariedade em torno da excelsa figura do cinema luso. o MNE perde duas semanas, com enviados ao Dubai, em negociações com as autoridades locais. gastando o dinheiro do erário público. para defender um consumidor de drogas. que sabia perfeitamente que o Dubai tem pouco ou nada de semelhante a Amsterdão. e ainda vem pedir para que se não alimente a novela mexicana?
eu defendo que se repatrie o rapazinho para o Dubai, com um pedido de desculpas às autoridades locais. o sr Ivo deverá ser acompanhado por um cartão que garanta que se trata de um personagem de uma qualquer ficção cinematográfica, com indesmentíveis laivos de portuguesismo, mas com a qual não nos identificamos. Se insistirem em deixá-lo cá por Portugal, à solta, ele que trate de pagar o que todos nós gastamos com a sua pequenina aventura.

instalou-se a dúvida

ontem, num acto de patética contrição, o ex-ministro Telmo Correia jurava a pés juntos que soubesse, o que sabe hoje, não tinha assinado um despacho duvidoso que dava autorização para a construção de um empreendimento turístico e o abate de mais de 2.000 sobreiros.
mas na sua tenativa vã e desesperada de justificar o injustificável, o ex-candidato à presidência do CDS, garantiu que no processo só tinha feito o que lhe era exigido. tinha sido nomeado para defender os interesses do turismo e dos empreendimentos turísticos. ele era ministro do turismo, por isso defendeu, com unhas e dentes, o sector. mas será que o ex-delfim de Paulo Portas, não se lembra que antes de ter sido nomeado para defender o turismo e seus promotores, foi eleito para defender os portugueses. não terá parado para pensar que abater mais de 2.000 sobreiros não é, de facto, defender os portugueses.
depois ainda se interrogam sobre o porquê da derrota de 20 de Fevereiro. não deve ter sido por falta de votos dos empreendedores turísticos.

os homens são todos diferentes

"ter uma filha leva-nos a perceber que passamos de Consumidores a Fornecedores"

Tom Zé

Gracie
"You can’t fool me
I saw you when you came out
You got your momma’s taste
But you got my mouth

You will always have a part of me
And nobody else is ever gonna see
Gracie girl

With your cards to your chest
Walking on your toes
What you got in the box
Only Gracie knows

And I would never try to make you be
Anything you didn’t really want to be
Gracie girl

Life flies by in seconds
You’re not a baby
Gracie you’re my friend
You’ll be a lady soon
But until then
You got to do what I say

Nodding off in my arms watching TV
I won’t move you an inch
Even though my arm’s asleep

One day you’re gonna want to go
I hope we taught you everything
You need to know
Gracie girl

And you will always be apart of me
And nobody else is ever going to see
But you and me
A little girl
My Gracie girl"

Ben Folds, "Songs for Silverman"

segunda-feira, maio 09, 2005

o fim

no passado sábado, em Penafiel, conversava com o Manuel Jorge Marmelo sobre a hipótese de ele colocar um fim no blog que alimenta há dois anos.
há dois dias ainda era apenas uma dúvida. hoje é uma enorme certeza. foi demasiado cedo para "Apenas um Pouco Tarde".

o poliglota

este sábado à noite aprendi uma anedota em senegalês...

N'Doye!

ao que tudo indica mais de seis milhões de almas não conseguem enxergar a piada.

para ler

mais quatro sugestões de blogues que acompanho há algum tempo e que a preguiça e o desleixo adiaram a inclusão na lista.
Alexandre Soares Silva e Pessoas de Romance são duas hipóteses de leitura vindas do Brasil. Fonte das Virtudes e Viagem pelas Ruas da Amargura, são hipóteses que chegam da rua Gonçalo Cristóvão.
para ler.

Um instante

um instante de poesia para lembrar que o Prémio Machado de Assis, um dos mais importantes galardões brasileiros, foi direitinho para o poeta Ferreira Gullar. para os interessados, a obra está publicada pela Quasi Edições.

"Um instante"


"Aqui me tenho
Como não me conheço
nem me quis

sem começo
nem fim

aqui me tenho
sem mim

nada lembro
nem sei

é luz presente
sou apenas um bicho
transparente"

sexta-feira, maio 06, 2005

a vergonha

terça-feira começam as comemorações do centenário do nascimento de D. António Ferreira Gomes. começam no Porto. em Penafiel, terra que o viu nascer, nem nada.
nem poder, nem oposição. ninguém sabe, ninguém se lembra. no Porto há teatro, livros, exposições e debates. em Penafiel, até ao momento, nada.
a vergonha segue dentro de momentos.

PS: a EB 2/3 de Penafiel nº1 tem uma página na net que relembra a vida do "Bispo do Porto".

bons rapazes I

ontem gravamos pela segunda vez a primeira edição do "Tudo bons rapazes", já que a primeira (por problemas técnicos) não foi para o ar.
esta noite, quando derem 21 horas, em 91.8, há muito para ouvir.
falamos de eleições autárquicas, de Nelson Correia (candidato socialista em Penafiel), de cultura, de política desportiva, dos Zoë, do ciclo literário Entre Pedras, Palavras e do centenário de D. António Ferreira Gomes.
vale a pena. e isto é só o arranque.

quinta-feira, maio 05, 2005

tá tudo tolo?

Marques Mendes não quer que Valentim Loureiro e Isaltino Morais se candidatem. José Socrates quer que os juízes trabalhem mais e reduziu-lhes as férias judiciais para metade.
que país é este? tá tudo tolo?


Eels, "Blinking Lights and Other Revelations"

os Eels são uma das minha bandas favoritas. É certo que nunca mais farão um disco tão bom quanto "Beautifull Freak", mas cada novo registo é digno de nota.
E e companheiros estão de regresso com "Blinking Lights and Other Revelations". estão também de regresso as frustrações de E, nomeadamente em relação à família.
Son of a Bitch é só um dos 33 exemplos agora disponíveis:

"Mother couldn't love me
But that didn't stop me
From liking her
She was my mom
And I was no son of a bitch
Daddy was a drunk
A most unpleasant man
Asleep on the floor
Just inside the front door
With a smile underneath
His red nose
The wrong look his way
Well, that could really
Wreck his day
And believe me when I say
It would wreck your day too
Grandma took me in
Though times were pretty thin
Said I was no son of a bitch
Down on my knees
Begging god please".

o pecado do exagero

"Capão pecado" do brasileiro Ferréz, editado recentemente pela Palavra, foi uma das minhas maiores decepções, desde que mergulhei na actual literatura brasileira.
as referências eram muitas e boas, contudo, este retrato de uma das favelas mais emblemáticas da zona sul de S. Paulo, não consegue superar as expectativas, nem tão pouco aproximar-se delas.
Ferréz é apresentado como um autor da geração hip-hop, aliás "Capão Pecado" seria uma espécie de primeiro romance hip-hop, mas falha os objectivos.
a escrita sai das vielas e becos da favela, crua e malandra. Os personagens são tão malandros quanto as falas que ensaiam, entre umas e outras.
mas Ferréz, ao contrário de outros autores como Paulo Lins, Drauzio Varella e Caco Barcellos, falha ao apresentar uma teoria da desculpabilização da malandragem. Ferréz apresenta os malandros, mas os malandros são sempre vítimas de uma sociedade que não os poupa. Os criminosos, são vítimas da economia, da história, da política, mas nunca deles mesmos.
"Capão Pecado" é um relato de conversas entre jovens com moral apertada e inflexível. os jovens favelados discutem a necessidade que sentem de se aplicar nos estudos para vencer na vida, como fazem os "playboys". existirão por certo muitos jovens de enorme valor que sofrem na pele a discriminação provocada por uma vida na favela, uma vida de exclusão. mas se o pecado mora naqueles que medem os esfavorecidos todos pela mesma bitola, considerando-os como incubadores do crime, também é certo que o pecado também mora nas certezas de quem apregoa que só há crime porque os favelados não têm oportunidades na vida.
ao contrário da "Cidade de Deus", "Capão Pecado" é um exercício profundamente ingénuo e literáriamente muito desinteressante.

quarta-feira, maio 04, 2005

o triangulo atlantico

"Os olhos do homem que chorava no rio", assim se chama o romance deste senhor e da Ana Paula Tavares, que servirá de mote para mais uma conversa no ciclo literário "Entre Pedras, Palavras".
Paulinho Assumção é o responsável por este projecto literário escrito a duas mãos.
Sobre ele, o homem que inventa livros na blogosfera, a partir de Belo Horizonte, escreveu:
"É um livro-música-de-câmara. E traz com ele a poesia abraçada com a prosa. E fez-se a triangulação Belo Horizonte-Porto-Huíla. Todos aqui estão em festa. Serenus abriu o vinho; Cida La Lampe buscou o vestido mais floral do seu armário; Focs treina cançonetas; Gunz prepara acepipes; a Mulher da Aura Azul comove-se com as lágrimas do tipógrafo; Baldus, vaidoso, sente-se cada vez mais uma pessoa de romance, grau a mais na escala das personagens imaginadas; Vicente Almas trouxe flores para os jarros; e eu, bom, eu fico por aqui, com os mais largos abraços que o Atlântico pode produzir entre Brasil, Portugal e Angola."
O encontro está marcado, como de costume, para as 15 horas, na biblioteca municipal de Penafiel.

segunda-feira, maio 02, 2005

rapazes amordaçados

a primeira emissão do "Tudo bons rapazes" foi um fiasco. a tecnologia amordaçou-nos. em semana de 25 de Abril o cursor azul do computador calou a nossa voz.
esta semana voltamos à carga, quinta-feira voltamos a gravar. falaremos do papa, das listas autárquicas em penafiel e de muito mais.
sexta-feira, se o computador deixar, o programa vai para o ar às 21 horas, em 91.8.

acorrentado

o João Paulo Coutinho desafiou-me a acorrentar-me aos livros através deste questionário. aqui vai, com a certeza de que não trarei grandes surpresas:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?

”O Cavaleiro da Dinamarca” da Sophia de Mello Breyner Andresen.

Já algumas vezes ficaste apanhadinho (a) por uma personagem de ficção?

o protagonista do "Paścoa Feliz", do José Rodrigues Migueis. porquê?
Porque:
"Eu já sofri. Já fui um descontente, um revoltado, se quiserem. Hoje vivo serenamente. A serenidade é a maior virtude da inteligência. O que houve em mim foi um simples conflito dos meios e dos fins. Todo o meu drama se resume nisto. Não discutam se sou mau ou bom. Os actos são bons ou maus, não segundo a vontade, mas segundo os efeitos. E há fatalidades que nos impelem, através do mal, para um destino de beleza perfeita.

A ideia do mal faz-me pensar na Sociedade: estamos quites! Nada fez por mim, nada lhe devo, vivi à margem dela como um cardo à beira dum caminho. Também a não acuso. Não passa duma abstracção para que apela quem já nada espera de si mesmo... Não há senão indivíduos. (Verdadeiramente, só eu existo, eu e estes pensamentos.) E todos exigimos dela alguma coisa!

Mas porque hei-de eu pensar no mundo? É um hábito que fica. Detesto a vida activa! Os gestos que faço, os passos que dou, perturbam-me a vida interior, que é o meu prazer. Esquecimento, quietação! Doutro, não me olhe assim! Não me pergunte mais nada!... Tenho amor a esta casa onde adquiri a certeza definitiva de que existo, porque penso.

Nesta hora solene em que revejo, comovido, a minha biografia, para que hei-de mentir? Eu sou o "homem que obedeceu".

Não me considerem pois um criminoso."


Qual o último livro que compraste ?

"Capão Pecado", de Ferréz. Uma viagem nua e crua ao mundo das favelas de S. Paulo. Nua, crua, mas muito ingénua.

Qual o último livro que leste?

"Romance sem palavras", de Carlos Heitor Cony. a ditadura brasileira e o amor.

Que livro estás a ler?

Sem grande anânimo para o "Longe do Abrigo", de David Lodge, com muita ansiedade de por as mãos nas "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis e a "Ilíada" de Homero, pelas mãos do Frederico Lourenço.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

"Ficções", de Jorge Luís Borges. para lembrar que a mais isolada das ilhas podemos ser nós, assim como o mais inexplorado dos continentes.

"Memorial do Convento", de José Saramago. para não esquecer que o amor se constrói como uma enorme catedral. com muita arte, enorme sofrimento e uma enorme dose de loucura e megalomania.

"Mar novo", da Sophia de Mello Breyner Andresen. para amar aquele que me cerca e aprisiona.

"Robinson Crusoé", Louis Stevenson. para aprender com a experiência alheia.

"Odisseia", de Homero. porque um dia, e há sempre um dia, em que lutamos e regressamos a casa.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Ao Jorge Reis-Sá que cria livros
À Lésse que ama livros
Ao AJCM que pecisca livros