sábado, janeiro 10, 2004

Ri de quê?



Ontem terminei o dia com a compra de dois bilhetes para o "Último Samurai", num cinema de Penafiel.
Experiêncas anteriores deviam ter-me avisado dos riscos que corro ao ir a uma sala de cinema "generalista", numa sexta-feira à noite.
Mas a atracção pelo universo japonês, mais concretamente pelo universo samurai, toldou-me a memória.
Anos de convivência com Ogami Ito, da belíssima série de 28 volumes "Lone Wolf and Cub", que em bom tempo descobri, com Musashi da série "Vagabond", levaram-me a querer conhecer a história desse tal Nathan Algren.
Para quem ainda não ouviu falar do filme, diga-se que se trata da história de um oficial do exército norte-americano, que depois de aprisionado por um exército samurai, descobre e apaixona-se pela cultura do Japão feudal, do Japão de Edo e dos Shoguns.
Enquanto Tom Cruise descobria as maravilhas do sake, sashimi e do hara-kiri, eu descobria o penafiel-san.
O penafiel-san arrasta a sua gueisha e numa atitude premeditada decide que se vai divertir. independentemente da tensão a película. Ele decidiu divertir-se e é isso que vai fazer.
Por isso mesmo, é indiferente que na tela morram hordas de guerreiros, que as crianças chorem a perda do pai, olhos nos olhos com o carrasco. É indiferente. Eles decidiram que se iam divertir, por isso riem do princípio ao fim do filme.
A turba ululante, grita, atende o telemóvel, comunica aos berros entre a terceira e décima segunda fila, e devora alarvemente mãos cheias de pipocas.
O enredo é o menos importante. O importante é o estímulo visual, uma espécie de luz a piscar diante dos olhos. Pode ser a tela do cinema, a televisão lá de casa ou as luzes de um bar. Tem é de piscar e ser colorida.
Voltamos aos tempos em que os navegadores trocavam contas coloridas e espelhos por ouro ou marfim.
Hoje trocam-se pipocas e refrigerantes, por luzes a piscar. Tudo o resto é indiferente.
Eles riem, mas riem de quê?