quarta-feira, abril 06, 2005

Saul Bellow (1915-2005)

"Em breve esgotou as palavras, a sensatez, a coerência. A fonte de todas as lágrimas abrira-se de repente dentro dele, negra, profunda e quente, e elas jorravam e convulsionavam-lhe o corpo, vergando-lhe a cabeça teimosa, encurvando-lhe os ombros, retorcendo-lhe o rosto, enclavinhado-lhe as mesmas mãoos com que segurava o lenço. Os seus esforços para se dominar eram inúteis. O enorme nó de injustiça e dor que tinha na garganta subiu, e abandonou-se inteiramente; segurou na face e chorou. Chorou com todo o coração.
Era ele o único, entre todas as pessoas que enchiam a capela, que soluçava. Ninguém sabia quem era."

Saul Bellow, "Agarra o dia", Fragmentos, 1974