terça-feira, dezembro 16, 2003

Entre Pedras uma sugestão

Carlos de Oliveira está a ser reeditado pela Assírio e Alvim, mas continua, infelizmente, muito pouco lido.
Como quase todos os poetas, ironicamente, num país dito de poetas.
Maria Aliete


"Localizar
na frágil espessura
do tempo,
que a linguagem
pôs
em vibração
o ponto morto
onde a velocidade
se fractura
e aí
determinar
com exactidão
o foco
do silêncio.
Algures
o poema sonha
o arquétipo
do voo
inutilmente
porque repete
apenas
o signo, o desenho
do Outono
aéreo
onde se perde a asa
quando vier
o instante
de voar
Caem
do céu calcário,
acordam flores
milénios depois,
rolam de verso
em verso
fechadas
como gotas,
e ouve-se
ao fim da página
um murmúrio
orvalhado."

Carlos Oliveira