sexta-feira, janeiro 23, 2004

A autópsia do amor



Nestes dias em que o corpo parece querer ceder num longo combate com um vírus gripal, reencontro a morte.
A morte corpórea, a morte moral, a morte do amor, a morte da esperança.
Quem não ler "Este é o meu corpo", de Filipa Melo, nunca perceberá que uma autópsia pode ser um acto de amor, que o bisturi pode ser empunhado com o carinho dos gestos tímidos.
O mapa das entranhas revela tudo quanto os olhos fazem por esconder.
O desenho de um visceral e quente amor pode ter as linhas de um corte, em Y, que parta do tórax, se una no abdómen e extinga na raíz púbica.
Este é o meu primeiro amor cortante.
A autópsia é o conhecimento de nós próprios. E o nosso amor também vai à faca.