segunda-feira, janeiro 26, 2004

Nem que o céu se tinja de negro

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"hei-de um dia levar-te a ver o sol do qual
conheço todas as cores (amarelo etc) pensamos
que as coisas existem mas segunda-feira traz

linhas de voo à liberdade da imaginação. por
um instante pensei no sol como algo eterno
desconhecido mas um dia (digo) um dia algum

hei-de levar-te a ver o rio. fechamos os olhos
ao usual esquecemos a diferença mas alguém
sabe quantos quadros pintou Picasso ou Resende
ou Van Gogh? quanto pesa a torre dos Clérigos?

mas também: quantas são as cores do arco-íris?
a forma de todas as pedras? não há desculpa
para a rotina nem remédio para o ritual. hei-de
um dia levar-te a ver o sul o sol um dia"

João Luís Barreto Guimarães, "3", Gótica, 2001