a propósito de Deco e Rui Costa. mas também podia ser a propósito de Fernando Couto e Ricardo Carvalho
"Não tem perdão a obtusidade com que insistimos em Servílio. Só no jogo com o Perú é que desconfiamos do óbvio ululante. Não havia nenhuma afinidade entre alhos e bugalhos, ou seja: - entre Servílio e Pelé. Mas no dia seguinte, todo o mundo enxergou, de repente, outro óbvio, ainda mais estarrecedor: - Alcindo. O tal companheiro de pelé, mais esperado do que um Messias, era o formidável centauro gaúcho.
Notem que estava na cara. Mas ai de nós, ai de nós! Nunca enxergamos o que está na cara. Alcindo treinava com uma saúde, um élan, uma fome, uma sede, uma fúriasagrada. Se pusessem uma paralelepípedo na arquibancada, ele diria, com o dedo apontado para Alcindo: - "Esse é o companheiro de Pelé!". (Nas minhas crônicas, os paralelepípedos têm dedo.) Mas como eu ia dizendo: - o que um paralelepípedo veria, ao primeiro olhar, nós não vimos. E, por fim, ninguém acreditava mais no tal companheiro. Foi preciso que jogassem o Brasil e a Polônia, lá no Mineirão. E o óbvio baixou, de repente, no estádio. Não há mais dúvida, não há mais nada. O jogador que o óbvio escla é inarredável, irrversível, assim na terra como no céu."
Nelson Rodrigues, "A pátria em chuteiras, novas crônicas de futebol", Companhia das letras, Brasil, 1994
Notem que estava na cara. Mas ai de nós, ai de nós! Nunca enxergamos o que está na cara. Alcindo treinava com uma saúde, um élan, uma fome, uma sede, uma fúriasagrada. Se pusessem uma paralelepípedo na arquibancada, ele diria, com o dedo apontado para Alcindo: - "Esse é o companheiro de Pelé!". (Nas minhas crônicas, os paralelepípedos têm dedo.) Mas como eu ia dizendo: - o que um paralelepípedo veria, ao primeiro olhar, nós não vimos. E, por fim, ninguém acreditava mais no tal companheiro. Foi preciso que jogassem o Brasil e a Polônia, lá no Mineirão. E o óbvio baixou, de repente, no estádio. Não há mais dúvida, não há mais nada. O jogador que o óbvio escla é inarredável, irrversível, assim na terra como no céu."
Nelson Rodrigues, "A pátria em chuteiras, novas crônicas de futebol", Companhia das letras, Brasil, 1994
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