A pouca vergonha
Ontem, quando passava os olhos pelo Jornal de Notícias, dei de caras com uma daquelas notícias que nos deixa perceber quanto o nosso país é pobre, triste e podre.
Tudo se passou nesse reino, de lusa fantasia, chamado Felgueiras.
Na noite de Sàbado a autarquia em estreita ligação com a Escola Profissional de Calçado de Felgueiras levou a cabo um desfile de jovens estilistas de calçado.
Em causa estava a entrega de um prémio intitulado "Sapato Criativo".
O certame, ao que rezam as crónicas, foi apresentado por uma jovem que por coincidência se chama Felgueiras, trabalha na RTP e tem a mãe (outrora autarca daquele concelho) no Brasil.
Coincidências à parte, a cerimónia serviu para demonstrar toda a pujança de um sector vital da exportação portuguesa.
O final teria pois que ser apoteótico. Para isso recorreu a organização a um modelo já ali experimentado, e que se traduziu na apresentação de um vestido de noiva bordado pelo engenho das mãos que trabalham na Casa do Risco e dela fazem uma referência no norte do país.
Só que, e aqui está o que faz desta estória a verdadeira delícia, este ano o vestido de noiva não foi envergado pela modelo do ano passado.
Fátima Felgueiras, que por certo andará a passar outro tipo de modelito em Copacabana e que por pouco escapou a um muito português fatinho branco às riscas pretas, não desfilou o modelito de noiva.
A substituta, Diana Pereira, não deu ao momento o ar farto de demagogia e aquele inconfundível ar impenetrável, bem patente num penteado à Imelda Marcos.
Estava o público já em extase, ante a beleza do bordado e da noiva (este ano bem mais jovem e virginal), quando a apresentadora pediu "um forte aplauso para a outra pessoa que no ano passado desfilou com esse vestido...".
É assim que vai o nosso país.
No ar ficou aquela furiosa salva de palmas, tão furiosa como os cascudos que ficaram por dar em Francisco Assis, tão furiosa como a estupidez que nos vai varrendo e dirigindo uma região que apesar de ter uma indústria pujante, continua a ser a segunda NUTT mais pobre do país.
Porque ser rico não é ter uma casa no Leblon ou Copacabana, ser rico não é ter o concelho da Europa com a maior concentração de Ferraris por quilómetro quadrado.
Ser rico é ter a capacidade de corar de vergonha ante estas manifestações terceiro-mundistas.
O destino, para quem acredita, tem uma sabedoria curiosa. Talvez por isso mesmo o vencedor do certame de Felgueiras tenha ganho com uma bota-sandália, um compromisso entre o rigor climatérico do norte de Portugal e a genorisade solar do Rio de Janeiro. Tudo em pele de Avestruz, material que, bem vistas as coisas, não será difícil de encontrar em Felgueiras.
Tudo se passou nesse reino, de lusa fantasia, chamado Felgueiras.
Na noite de Sàbado a autarquia em estreita ligação com a Escola Profissional de Calçado de Felgueiras levou a cabo um desfile de jovens estilistas de calçado.
Em causa estava a entrega de um prémio intitulado "Sapato Criativo".
O certame, ao que rezam as crónicas, foi apresentado por uma jovem que por coincidência se chama Felgueiras, trabalha na RTP e tem a mãe (outrora autarca daquele concelho) no Brasil.
Coincidências à parte, a cerimónia serviu para demonstrar toda a pujança de um sector vital da exportação portuguesa.
O final teria pois que ser apoteótico. Para isso recorreu a organização a um modelo já ali experimentado, e que se traduziu na apresentação de um vestido de noiva bordado pelo engenho das mãos que trabalham na Casa do Risco e dela fazem uma referência no norte do país.
Só que, e aqui está o que faz desta estória a verdadeira delícia, este ano o vestido de noiva não foi envergado pela modelo do ano passado.
Fátima Felgueiras, que por certo andará a passar outro tipo de modelito em Copacabana e que por pouco escapou a um muito português fatinho branco às riscas pretas, não desfilou o modelito de noiva.
A substituta, Diana Pereira, não deu ao momento o ar farto de demagogia e aquele inconfundível ar impenetrável, bem patente num penteado à Imelda Marcos.
Estava o público já em extase, ante a beleza do bordado e da noiva (este ano bem mais jovem e virginal), quando a apresentadora pediu "um forte aplauso para a outra pessoa que no ano passado desfilou com esse vestido...".
É assim que vai o nosso país.
No ar ficou aquela furiosa salva de palmas, tão furiosa como os cascudos que ficaram por dar em Francisco Assis, tão furiosa como a estupidez que nos vai varrendo e dirigindo uma região que apesar de ter uma indústria pujante, continua a ser a segunda NUTT mais pobre do país.
Porque ser rico não é ter uma casa no Leblon ou Copacabana, ser rico não é ter o concelho da Europa com a maior concentração de Ferraris por quilómetro quadrado.
Ser rico é ter a capacidade de corar de vergonha ante estas manifestações terceiro-mundistas.
O destino, para quem acredita, tem uma sabedoria curiosa. Talvez por isso mesmo o vencedor do certame de Felgueiras tenha ganho com uma bota-sandália, um compromisso entre o rigor climatérico do norte de Portugal e a genorisade solar do Rio de Janeiro. Tudo em pele de Avestruz, material que, bem vistas as coisas, não será difícil de encontrar em Felgueiras.
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