quinta-feira, agosto 07, 2003

"Criatividade iguala Capital"

Esta semana a "Businessweek" e o "Star Tribune", de Minneapolis, apresentam, o que para muitos de nós era já visível, cidades cujo desenvolvimento económico crescente se deve a um forte investimento nas artes.
De acordo com um estudo, levado a cabo por Ann Markusen e David King da Universidade do Minnesota, existe um "dividendo das artes" em cidades com viva actividade artística.
De acordo com o estudo os trabalhadores com mais qualificações escolhem, para viver, cidades com animação artística. Esta é uma opinião que vem de encontro à argumentação do economista Richard Florida, da Universidade de Carnegie Mellon, para quem as classes com mais posses preferem viver em cidades onde a urbanidade ande de mãos dadas com as novas estéticas e a oferta cultural.
Cidades como San Francisco, Seattle ou Minneapolis-St. Paul, com grandes comunidades artísticas apresentam melhores indicadores de crescimento económico, do que cidades cuja aposta se centra única e exclusivamente no comércio e indústria.
Vem isto a propósito da tão propalada política de eventos desenvolvida pela Câmara Municipal de Penafiel. Há quem discorde da aposta. Há quem não veja grandes dividendos neste investimento, porque é de investimento que estamos a falar. E há por fim quem não aproveite o mesmo investimento.
Pela parte que me toca considero que se trata de um investimento fundamental para que a cidade consiga dar o salto que pretende.
Sente-se que hoje, mais do que nunca, há predisposição para investir em espectáculos e manifestações culturais.
No entanto sente-se que não há, ainda, uma concertação de esforços e um planeamento que lhe confira coerência e resultados palpáveis.
Antes de mais é necessário que a autarquia desenvolva um recenseamento concelhio dos espaços culturais e suas actuais condições de conservação e materiais.
Face à carta desenhada por esse recenseamento deverá a autarquia estudar quais as infra-estruturas a criar para suprir as necessidades identificadas. Aí entra, necessariamente, a construção de um espaço multi-meios, com capacidade para receber exposições nacionais e internacionais, um espaço com um palco funcional, quer para espectáculos musicais, quer teatrais. Este Palco deverá ter como finalidade última esses espectáculos e não conferências e colóquios. A funcionalidade artística não pode ceder terreno à estética de salão.
Por fim deverá ser constituída uma equipa multidisciplinar que desenvolva uma programação de qualidade e com uma forte componente pedagógica.
Formar os mais novos é fundamental para assegurar um concelho em que a futura massa empresarial tenha rasgo para investimentos de futuro, nas novas tecnologias e em nichos de mercado por explorar.
Paralelamente é fundamental iniciar uma análise às iniciativas já existentes, e que contam com apoio directo e indirecto da autarquia, no que diz respeito aos objectivos a que se propõem e de que forma os atingem.
Sendo assim, será que neste momento o que mais falta faz à cidade é uma companhia de teatro?
Se não existem salas com o mínimo de dignidade, esta aposta fará sentido?
Se já existe um festival de teatro que de ano para ano tem visto o seu orçamento "congelado", porquê apostar num novo festival, ainda por cima internacional?
Se há mais de uma dúzia de anos o Festafidelis tem usado a criatividade para ultrapassar as dificuldades endógenas e exógenas, com manifesto sucesso, porquê não reiterar o apoio a este projecto e lançar outro?
Nesta fase a cidade agradecia muito mais a manutenção do que já existe e a preparação de um trabalho de fundo numa área em que Penafiel, no seio dos seus pares, pode tomar a dianteira a médio prazo.
Neste momento Lousada leva uma vantagem assinalável (já tem inclusive um festival internacional de teatro), começou mais cedo, mas não terá as mesmas condições de dimensão e centralidade que Penafiel possui.
Sem planeamento os resultados não vão aparecer. Investir no passado é chover no molhado.
"Temos saudades do futuro" e esse é o caminho a seguir.