terça-feira, dezembro 16, 2003

Coincidências

Já não bastava tê-lo encontrado poeta e ainda descubro que traduziu o mais belo poema de amor. Mais uma vez as há frases, frames, sílabas, takes, versos e enquadramentos no espaço de uma página.

Funeral Blues

"Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Impeçam o cão de latir com um osso enorme,
Silenciem os pianos e ao som abafado dos tambores
Tragam o caixão, deixem as carpideiras carpir as suas dores.

Deixem os aviões a gemerem aos cículos no céu,
Rabiscando no ar a mensagem Ele Morreu,
Ponham laços de crepe nas pombas brancas e porque não,
Deixem os sinaleiros usar luvas pretas de algodão.

Ele era o meu Norte, meu Sul, meu Este e Oeste,
Minha semana de trabalho, meu Domingo de festa
Meu meio-dia, minha noite, minha conversa, minha canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: que ilusão.

Tirem as estrelas daqui, uma a uma;
Desmantelem o sol e empacotem a lua;
Despejem o oceano e varram a floresta
Porque agora já nada de bom me resta."

W. H. Auden, tradução de João Luís Barreto Guimarães, in "Qual é a minha ou a tua língua?", Assírio e Alvim, 2003