segunda-feira, abril 11, 2005

um dia severino

"(...)
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.
(...)"

João Cabral de Melo Neto, "Morte e vida Severina"

1 Comments:

Blogger peciscas said...

Ainda um dia lhe hei-de falar de um dos mais belos momentos de teatro a que assisti em toda a minha vida. A representação da "Morte e vida severina" pelo grupo de teatro de estudantes da Universidade Católica de S. Paulo, com música do Chico Buarque de Hollanda, então a dar os primeiros passos na vida artística.
Simplesmente inesquecível.

7:31 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home