terça-feira, agosto 12, 2003

A irritação fácil

O Nuno Simas no Glória Fácil avançou com uma das suas primeiras irritações. Aliás uma quente e bem presente irritação, já que se prende com um pretenso discurso políticamente correcto sobre a questão dos incêndios.
Eu considero que tem de existir alguma ponderação na análise do sucedido. Num momento em que as matas ainda ardem, em que há populações vulneráveis às chamas, o circo político não pode chamar a si as atenções. Os ministros, os secretários de estado e entidades competentes precisam de estar concentrados no que ainda há para fazer no terreno. Este não é o momento exacto para o governo se explicar aos grupos parlamentares da oposição e ao país. Neste momento o que eu espero do governo, não são palavras, mas acções concretas no terreno.
Espero que o governo se preocupe com quem, neste momento, se sente desprotegido e apoie quem já está de mangas arregaçadas para reconstruir a vida.
Este é o momento para agir, não para exercitar dotes retóricos, para atirar com culpas, para lavar roupa suja, nem para cuspir para o ar ou assobiar para o lado.
Mas o momento das explicações tem de chegar e breve, agora não em plena crise.
Quanto aos meios, alegadamente, insuficientes, tenho por convicção que não podemos avaliar da sua capacidade de resposta face a uma situação de excepção.
Ainda o ano passado a Austrália, cujo orçamento e poder económico em nada se pode comparar com o de Portugal, viveu uma situação de excepção para a qual nenhum país no mundo está preparado.
As excepções são assim, acontecem e nunca ninguém está preparado.
Não acho que devamos comprar aviões e helicópteros de combate aos incêndios que no futuro não terão utilização.
Não acho que devamos profissionalizar os bombeiros de Norte a Sul do país, criando vagas e desenvolvendo equipas que não serão operacionais.
Temos a capacidade de resposta necessária para uma gestão corrente.
Devemos melhorar os equipamentos, concordo.
Devemos criar melhores condições aos bombeiros, concordo.
Agora não concordo com a necessidade de dimensionar um corpo de combate aos incêndios em função de uma situação de excepção.
Fala-se muito nos famosos submarinos, mas a marinha só vai comprar dois. Vai comprar submarinos à escala das necessidades de formação exigidas a um país com uma costa como a nossa.
Se um dia tivermos uma excepção e nos declararem guerra, dois submarinos não chegam, mas não é por isso que vamos a correr comprar um dúzia.
Não vamos virar albaneses e construir bunkers para protecção de uma invasão imaginária.