terça-feira, setembro 23, 2003

Os fenómenos de Paredes

Paredes, cidade em que habito em part-time, é um daqueles locais a que uma qualquer lei decidiu conferir o estatuto de cidade, mas que nunca será um espaço de urbanidade.
Sufocada por uma política de construção desmesurada, em que as varandas dos apartamentos se roçam num jogo erótico sem paralelo, é agora um território descaracterizado. Uma amalgama de edifícios e rotundas, um exercício de novo-riquismo e falta de gosto.
Ontem Paredes foi mais uma das cidades que aderiu ao dia europeu sem carros, Na falta de melhor, a autarquia decidiu fechar a circulação automóvel em redor do jardim central da cidade, o mesmo jardim que serve de hall de entrada da Câmara Municipal.
Durante todo o dia o presidente da autarquia pode olhar pela janela e pensar "que sossegada é esta cidade sem carros", pelo menos sem a meia dúzia de carros que por ali circulam durante o dia.
Poucos foram aqueles que repararam na efeméride, talvez só mesmo quem tiver tido a necessidade de recorrer a uma das duas farmácias da cidade.
Numa cidade cujo planeamento se assemelha ao de um quarto de um adolescente pouco ou nada adianta dizer que durante meia dúzia de horas ele não vai poder entrar no quarto. É inócuo. O quarto vai continuar a mesma bagunça e porcaria, só não vai piorar durante meia dúzia de horas, pois assim que o adolescente puder entrar no quarto vamos ter mais bagunça.
E ainda há quem tenha a lata de comemorar o dia com uma sessão de fogo de artifício.
Em minha casa, a escassos metros do foguetório, fizemos um consternado minuto de silêncio