quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Pequenina, porém imensa

Ontem conheci a Maria do Rosário Pedreira. Ontem vi-a, pequenina, no seu fato cinzento.
Soltas as palavras, mostrou-se grande e colorida, como a música que diz não ouvir.
Aplicou ferroadas e chamou panfletária à poesia do Manuel Alegre. Mas tem tamanho para isso e muito mais.
Dentro de dois dias lança o seu novo livro. 48, são só 48 horas.

"O meu mundo tem estado à tua espera; mas
não há flores nas jarras, nem velas sobre a mesa,
nem retratos escondidos no fundo das gavetas. Sei

que um poema se escreveria entre nós dois; mas
não comprei o vinho, não mudei os lençóis,
não perfumei o decote do vestido.

Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira –
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria. Não me perguntes

porque se mata o sol na lâmina dos dias
e o meu mundo continua à tua espera:
houve sempre coisas de esguelha nas paisagens
e amores imperfeitos – Deus tem as mãos grandes”

"O Canto do Vento nos Ciprestes", Maria do Rosário Pedreira, Gótica