quarta-feira, setembro 08, 2004

como um barco sem porto

a nossa atenção anda como um barco sem porto. como espuma na crista de um mar revolto, como ondas que esbarram em arribas firmes.
da confusão pouco ficará e as marcas deixadas na areia não resistirão muito tempo às vagas que na praia desmaiam.
nos barcos agora à deriva, de ambos os lados, desfraldam-se uma ética e moral esfarrapadas.
não é um qualquer esquife que salvará um país em busca de um aborto de abrigo. lá chegaremos, ao nosso ritmo, à nossa medida.
nem sempre remar com toda a força é remar bem.
estou no mesmo barco e tenho o mesmo destino, não me peçam é para concordar com a rota e o espalhafato escolhidos. não nos esqueçamos que estamos a falar da dor e a dor não se trata assim.

entretanto ficam amnióticas palavras, uma "Ferida Aberta" à vida.

Laparotomia
"O seu útero era como uma
Melancia que alguém tivesse

Deixado caír ao chão. Por entre
Os ruídos de alarme do monitor

Ouvia-se a voz do anestesista
Falando de catéteres centrais

Um feto de mais ou menos treze semanas
Boiava no meio das ansas intestinais"

Ferida Aberta, Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim