segunda-feira, agosto 04, 2003

Regressemos ao Afeganistão

Tropeço esta manhã num dos livros mais curiosos do último ano, chama-se "To Afghanistan and Back".
“To Afghanistan and back” é um relato cru e politicamente violento sobre os ataques aéreos efectuados pelos Estados Unidos ao Afeganistão.É uma crónica de viagem ao mundo do regime talibã da autoria de um dos mais conceituados e premiados jornalistas e cartoonistas americanos, Ted Rall.
Do seu percurso fazem já parte dois prémios de jornalismo Robert F. Kenedy e uma presença como finalista do Prémio Pulitzer.
Apesar de Nova Iorquino não deixa de ter um sentido crítico, muito apurado, em relação ao que é a América e o ser americano. No preciso momento em que os bombardeiros americanos iniciaram os ataques ao Afeganistão, Ted Rall e a mulher encontravam-se embrenhados na comunidade Pashtun.
O resultado das experiências vividas com o povo afegão está patente num livro que acaba por ser um híbrido de fotografia, ensaios, cartoons e um romance gráfico.
Ponta de lança de um discurso politicamente incorrecto e hostil aos grandes grupos económicos, Ted Rall lança diariamente, na Time, Fortune, International Herald-Tribune ou New York Times, ferozes ataques ao coração do capital.
Muito longe do estilo jornalístico das grandes cadeias de televisão norte-americanas e mais ainda dos press releases governamentais, Ted Rall leva-nos numa viagem pela milenar rota da seda contando a história de um prisioneiro que se suicida com granadas ou de como guerreiros mujahideen se reuniam em fila para se barbearem e assistirem a um filme pornográfico em DVD, um dia depois de se juntarem à Aliança do Norte

Numa numa conversa/entrevista com Ted Rall logo após o fim da guerra no Afeganistão, Ted Rall falou-me da inevitabilidade do ataque ao World Trade Center e do terrorismo económico de que os americanos estão a ser alvo por parte de alguns “talibãs” do capitalismo.

De entre as muitas perguntas não publicadas devido à bem dita falta de espaço dos jornais, o Ted dizia:

" O que é que ficou por dizer sobre o conflito no Afeganistão que este livro desvenda?

A verdade que não foi contada: os milhares de civis afegãos mortos pelas bombas americanas, a estupidez de pensar que os talibãs seriam derrotados, o facto de nada ter mudado no Afeganistão apesar da tão propalada “libertação”. Mentiram-nos acerca de praticamente tudo. O meu livro é um pequeno passo em direcção à correcção dos registos históricos.

É possível imaginar este romance gráfico escrito por um talibã?

Desde que o regime talibã proibiu a representação gráfica de coisas vivas, suspeito que um romance gráfico talibã incluiria muitas formas geométricas e espaços em branco. "

Recordando estas últimas palavras e olhando para os dois lados do conflito, seja com o Afeganistão, ou com o Iraque, não tenho dúvidas de que optaria sempre pela liberdade. E a liberdade sinto que sopra com mais força a Ocidente.