quinta-feira, setembro 25, 2003

Erotismo e Pornografia

Instado a comentar o dia europeu sem carros de Paredes, o meu caro amigo José Vinha afirmou...

Que queres dizer com tanta intensidade erótica? Será que essa cidade te dá
um prazer "desmesurado"? Por que razão te excita tanto o "roço erótico sem
paralelo das varandas dos apartamentos"!?! Cá por mim, esse erotismo todo dá
gozo, tanto mais que sou fã de varandas atrevidas que "roçam" todos os
imaginários, e como sabes não tenho por vizinha uma varanda, nem nenhuma
inquilina roçona... pena, pois é.Quanto ao "roço" e à intensidade erótica que colocas nas varandas,
juro, foi uma novidade do caraças...


Zé Vinha surpreendes-me com a tua estupfacção. Só quem não percorre as ruas e ruelas de Paredes, a que teimam chamar avenidas, é que não vê o languido roçar das esquinas das varandas. Só quem anda distraído é que não percebe como se arrastam os prédios, para que, a escassos centímetros de distância, sintam a respiração e exaustão dos seus congéneres.
Isto é erotismo, a forma como se colam azulejos com azulejos, como as esquinas se tocam, como as janelas e varandas se entreolham.
E é erotismo porque a maioria dos apartamentos está vazia. Ninguém lhes pega. Jazem sós e desocupados.
No dia em que as almas de Lordelo, Bitarães, Rebordosa ou Vila Cova de Carros se perderem de amores pela ubarnidade paredense, passamos ao estado de pornografia.
Quando as donas de casa espirrarem e o jornal do vizinho voar, quando as mais elementares regras de privacidade e intimidade começarem a ser quebradas, pura e simplesmente, porque não há espaço para as manter intactas, aí sim, aí viveremos na mais explícita e pobre pornografia.
Tu, Zé Vinha, que não vives num condomínio, jamais perceberás estes lamentos e a diferença entre o erotismo e a pornografia do betão.
Um abraço