sexta-feira, novembro 21, 2003

O delito de opinião

Depois de uma viagem, que me tomou alguns dias e me impossibilitou o acesso à internet, eis-me de volta para colocar em dia algumas polémicas estabelecidas a partir do meu último post.
O meu último post, que tinha por base a comunicação do ex-vereador na convenção rosa, não foi bem recebido no Partido Socialista, pelo menos em termos oficiais, já que o off the record me impede de transmitir o real pulsar de vários militantes do partido.
Assim sendo, quero agradecer a atenção dispensada pelo doutor ( sem aspas ) Sousa Pinto. A carta que me dirigiu, escrita com o estilo que todos reconhecemos, peca pela fulanização em que se embrenhou.
Quando me referi a " este velhinho cheiro a ranço político, o bolor e o verdete dos insultos gratuitos ", referia-me aos insultos e a toda a uma política que lhe anda a reboque. Reconheço ao sr. doutor ( sem aspas ) muitas virtudes, mas reconheço também que as declarações que efectuou se inserem numa "política de antanho a tentar relembrar o que há muito fazemos por esquecer".
O insulto e a calúnia são como o carvão não matam, mas sujam. Já a opinião franca e de cara descoberta tem a enorme vantagem de ajudar a traçar a cartografia dos valores das pessoas que nos rodeiam.
Por falar em quem nos rodeia, o senhor doutor ( sem aspas ) acredita mesmo em todos aqueles que nos últimos dias lhe bateram nas costas a dar os parabéns?
Eu prefiro mil vezes alguém, como senhor, que diz abertamente o que pensa, do que essa turba que diariamente abana a cabeça em sinal de aprovação, para mais tarde nos zurzir nas conversas de café.
Há no entanto um "mas", dispenso, no senhor, as aspas e os insultos.
A opinião livre é uma dessas conquistas que o senhor doutor ( sem aspas ) regularmente festeja de cravo ao peito, por alturas de Abril.
Por fim a opinião pode ser efectivamente livre. Eu sei que nos partidos a opinião traz sempre água no bico, sei que se habituou a ver, naqueles que lhe dão palmadinhas nas costas, interesseiros que procuram ganhar alguma coisa com esse apoio de ocasião, mas não caia na tentação de medir todos pela mesma bitola. Ainda que não acredite há muita gente séria, com opinião e liberta de atilhos de conveniência.
Alguns nunca falarão assim abertamente, outros ainda se lembram de um tempo muito recente em que, em Penafiel, a opinião era um delito. Eu recuso-me a viver com medo e sobretudo sem memória.
Com a deferência que me merece e sem acrimónia, os meus melhores cumprimentos ( sem aspas ).