segunda-feira, setembro 13, 2004

hei-de ir para casa



Será que vou para casa no preciso instante em que a cortina correr diante dos olhos? ao fim do segundo encore, quantos de vós será possível contar, quando a plateia se mostrar iluminada, à força da sombra que me cobrirá por trás dos panos.
há um dia em que nos dirigimos para casa, sentindo cada vez mais fundos os rios que nos correm no rosto. a muita vida que eles transportam, é a mesma que nos verga irremediavelmente fazendo com que nos abandonemos ao sabor da corrente, certos de esta nos levará até casa.

Fluir

"Talvez em ti acabem hoje todas as nascentes,
e nas rugas que, numa e noutra face,
esculpiram o medo e a sabedoria,
se possa ler em comovido olhar
o princípio, o meio e o fim desse caudaloso
fluir que outrora chamámos vida.
Talvez agora, tal como ontem e sempre,
comece a própria morte,
aquilo que nos devora,
aquilo que nos convoca para o silêncio e para
a mão que escreve, sonâmbula e feroz,
estremecendo."

José Agostinho Baptista, Agora e na Hora da Nossa Morte, Assírio & Alvim, 1998