terça-feira, novembro 25, 2003

Catarina

- Andas a ler Mário de Carvalho?
Na mesa do café o livro agasalhava uma fantasia para dois coronéis e uma piscina. Os teus olhos traziam guardados toda a curiosidade do mundo e a inquietação do teu metro e vinte.

- Conheces o Mário de Carvalho?, perguntei, meio aparvalhado e surpreso

- Ando a estudar, na escola, "A inaudita guerra da avenida Gago Coutinho".

Prometi que em Janeiro te apresentaria a esse combatente das palavras que agora povoa as tuas aulas de português. Sorriste. E fizeste mais perguntas.
Num instante de maior sombra, feita de inauditas guerras de alecrim e manjerona, há sorrisos assim.
Sorrisos presentes. Sorrisos com antes e depois. Sorrisos do meio. Sorrisos que são pontes entre o que seremos e já fomos. Sorrisos de fronteira. Genuínos. Curiosos. Inquietantes.
A tua mais velha metade, sentada do outro lado da mesa, também ela sorria.
Não escreve o teu caminho, deixa que o faças pelo teu próprio punho. Um caminho cheio de perguntas.
Como tu, as tuas irmãs também escrevem o seu caminho, e ele (professor jubilado pela minha admiração), com as certezas a que nos habituou, lá vai corrigindo ortografias e gramáticas.

- Não te esqueças. É em Janeiro.