terça-feira, setembro 30, 2003

Rolling Stones

Zeus deixou cair, Sábado, o seu último e mais genuíno relâmpago. A descarga eléctrica rasgou a serenidade de uma noite jovem e pura como a água que a precedeu.
No horizonte a descarga desenhou quatro silhuetas, quatro rostos sulcados, oito mãos nodosas e sábias.
Na capa negra e carregada de Coimbra o relâmpago susteve-se e o ribombar do trovão durou mais de duas horas.
Há quem garanta que, no longo instante em que as respirações se suspenderam, se poderiam distinguir guitarras, baixos, baterias e vozes.
Os cérebros embriagados pela falta de oxigénio ouviram blues do Delta do Mississipi, protestos, manifestos, declarações de amor, ilusões e promessas de eternidade.
Um dia, em que este estranho fenómeno natural se extinga, poucos serão aqueles que recordarão o rejuvenescedor impacto da electricidade nas fragas. As mesmas pedras pelas quais ainda hoje, e ao fim de tantos anos, algumas cabrinhas se continuam a apaixonar.