terça-feira, julho 26, 2005

100% confundidos

há uns dias escrevi um posto sobre uma sub-suburbanidade dos paredenses e na fundamentação da ideia adiantei: “só assim se compreende que um festival de música (Antarte Pop-Rock / 100% nacional) se faça anunciar como sendo em Rebordosa/Porto.
há mais orgulho na pertença a uma freguesia, do que numa pertença concelhia. este é apenas um fait-divers nessa demanda.”

o certo é que na volta do correio recebi este mail da organização do festival.

“Olá!
A organização do festival orgulha-se de ser de Rebordosa / Paredes / Porto.
Rebordosa / Porto pareceu-nos mais adequado para localizar o festival Antarte Pop Rock... pois é o primeiro do Distrito do Porto, onde Paredes pertence. Mais! já existe Paredes... de Coura!
Cumprimentos.”

pois então vamos aos esclarecimentos, entretanto já enviados por mail aos organizadores do festival:

acredito que a organização se orgulhe de ser de Paredes, mas imaginemos que todas as freguesias do distrito do porto se lembravam de adoptar a mesma política,acreditem que seria muito difícil localizar o que quer que fosse.
quanto ao “Antarte Pop-Rock” ser o 1º festival do distrito, alguém deve ter informado muito mal os organizadores.
o distrito do Porto tem uma larga tradição de festivais de música. desde logo o mais antigo e com mais pergaminhos, o “Ritual Rock”, que acontece, anualmente, no final do Verão, junto à Alfandega.
com vida mais efémera tivemos o “Imperial ao Vivo”, que balançou entre a Alfandega e o campo de treinos do outrora Estádio das Antas. festival que trouxe a Portugal nomes como os Smashing Pumpkins, Beck, Skunk Anansie, Nick Cave, James, Pulp, Prodigy, etc...
para amantes da música do Mundo tivemos também, nos jardins do Palácio de Cristal, o Ritmos do Mundo, com a Angelique Kidjo ou o Salif Keita, que mais tarde foi substituído pelas noites do Palácio.
mesmo quanto ao facto de ser o 1º e maior festival do Vale do Sousa, já chegam tarde.
A organização do “Antarte Pop-Rock” não se deve lembrar do Penafiel Open Air, aquele que foi o maior festival de heavy metal do país, e que se realizava, até há bem pouco tempo, em Penafiel.
nomes como os Cradle of Filth mostraram-se pela primeira vez aos fãs portugueses, em Penafiel.
o “Antarte Pop-Rock” tinha boas condições, mas falhou em duas áreas muito importantes.
mesmo assim em nenhum momento os jornalistas criticaram essas gritantes deficiências, nem mesmo quando eram referidos os naturais exageros do 1º e maior festival do distrito.
por isso e até ao momento, o “Antarte Pop-Rock” é só mais um festival do distrito do Porto, nem o maior, nem o primeiro e longe de ser o melhor.
quanto ao evitar usar Paredes, para não confundir com Paredes de Coura, garanto que não há esse perigo... desde logo, bastava olhar para os cartazes.
da mesma forma que ninguém confunde o género humano, com o Manuel Germano.

segunda-feira, julho 25, 2005

apneia de escrita

hoje recebi um mail oficial. com toda aquela escrita oficial e formatada. cheia daqueles "oportunamente", "ficando a aguardar" e "melhores cumprimentos".
um mail que parecia grande coisa trazia afinal de contas, apenas, uma frase.
1270 caracteres numa oração. 201 palavras numa frase. um único ponto final para tanta ideia, projecto, objectivo e futuro. eu, asmático confesso, não resisti ao fôlego verborreico. acredito que o mail até me poderia salvar, mudar a vida, mostrar-me um caminho de luz e felicidade, o facto é que não resisto até ao seu fim.
capitulo ao fim de umas quantas palavras, de umas dezenas de caracteres.
ofegante, desepero por notícias do fim da frase.
Como diz Fernando Sabino: "No fim tudo dá certo, se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim." e o fim não chega e isto continua sem bater certo.

vou devolver o mail, dizendo que vou "ficando a aguardar" "oportunamente" pelo final da frase.
"com os melhores cumprimentos"

A formosa tragédia

"Tinha dezanove anos. A minha vida, para todos os efeitos, mal começara. Mas antes mesmo de ter podido pisar-lhe o palco, parecia ter chegado já o momento de fechar o pano. A tragédia grega ensina que "o amor não deve atingir a própria medula da alma". Mas na vida de alguns de nós, de preferência uma única e irrepetível vez, a medula da alma é atingida pelo amor.
Felizes os que sobrevivem."

A Formosa Pintura do Mundo, Frederico Lourenço, Cotovia, 2005

sexta-feira, julho 22, 2005

cientificamente provado e testado

Num blog de gente e com vida de cão foi levantada uma questão tão séria, quanto velha: "Afinal o que é que os homens querem?".
Sobre este tema não há quem não tenha ou manifeste uma opinião. Para mim há uma série de pressupostos empíricos que podem ser aduzidos, mas nestas questões não há como recorrer às ciências.

"Os seus resultados ("The Managerial Woman", de Henning/Jardim) confirmam um ponto muitas vezes violentamente negado pelas feministas mais militantes: os homens e as mulheres têm culturas diferentes - culturas informais diferentes. As expectativas dos homens e das mulheres, as suas estratégias, as suas atitudes em relação ao trabalho e aos seus colegas são completamente diferentes.
(...)

Para os homens, o essencial é aquilo que fazem, para as mulheres é aquilo que são."

"A Dança da Vida", de Edward T. Hall, Relógio d'Água, 1996

terça-feira, julho 19, 2005

gatices

Para a isabel Peixoto, que gosta destas bichezas

OUTRA GATA

"Embora seja tão
minúscula, está viva
a gata que se esquiva
enquanto minha mão,

com mais de um arranhão,
conclui a tentativa
inútil e, à deriva,
afaga o nada em vão.

Fruindo em paz de sete
vidas, no entanto, a gata
faz sua toilette

e assim não se constata
que esconde um canivete
suíço em cada pata."

Nelson Ascher "ALGO DE SOL", 1996

os sub-suburbanos

ninguém vive em Paredes. pelo menos é essa a conclusão a que chega cada vez que se fala com um paredense, fora da sua terra. vivem todos no Porto, quando muito, nos arredores do Porto, enfim, perto do Porto.
há uma vergonha entranhada e completamente justificável. eu próprio digo que durmo em Paredes, recusando a ideia de viver nessa terra. viver significa participar nesse espaço, comungar uma pertença, experimentar um dia-a-dia local e particular.
eu recuso essa sorte. durmo em Paredes, de facto, não mais.
os paredenses fazem o mesmo, só assim se compreende que um festival de música (Antarte Pop-Rock / 100% nacional) se faça anunciar como sendo em Rebordosa/Porto.
há mais orgulho na pertença a uma freguesia, do que numa pertença concelhia. este é apenas um fait-divers nessa demanda. assim se explica que todos os candidatos à câmara municipal sonhem com uma integração na área metropolitana do Porto. os paredenses têm um cosmopolitismo que não cabe no Vale do Sousa. preferem ser o subúrbio de Valongo a ter uma identidade própria. estes são os sub-suburbanos.

na circunstância, sem pompa

passaram dois anos de palavras intermitentes. ninguém deu por isso. nem eu. foi no Sábado.

segunda-feira, julho 11, 2005

"o bailado dos afogados", seguido do "canto do cisne"

falta pouco tempo para que se fechem os plantéis autárquicos. o mesmo será dizer que falta pouco tempo para que os candidatos a vereadores possam exibir seus cantos e encantos.
em Paredes os ritos já começaram e o bailado, de um ou outro afogado autárquico, chega a dar dó.
tinha tudo para ser dramático, se não fosse patético.

"volúpia do aborrecimento"

assim se encontra este blog e seu autor, numa profunda "volúpia do aborrecimento".
mergulhado em livros sou acometido do síndrome de Bartleby: nada, do que por aqui se escreva, merece conhecer a luz do dia.
as mais recentes leituras afogaram-me num pudor de escrita. continuo a digerir a obra de Gonçalo M. Tavares, as conversas com o Ondjaki, os lírios do Érico Veríssimo, os charutos do Rubem Fonseca, as memórias do Machado de Assis e a Tramontana de Gabriel García Marquez.
compreendam que se me esmoreça a escrita diante desta leitura.