quarta-feira, junho 30, 2004

colocar comentários

a pedido de várias famílias (na verdade foi só uma, aliás foi menos que uma, foi uma parcela de família) aqui vai uma breve explicação do funcionamento da caixa de comentários.

primeiro carregam na palavra coments que aparece no fim de todos os textos, juntamente com a hora em que foram colocados

depois voltam a carregar na frase post a coment
seguidamente escrevem o texto na caixa que aparece no ecrã e seleccionam a versão anonymous.

PS: por favor assinem os comentários. não há nada como assumirmos o que pensamos.

é a república, estúpida

a ignorância cultivada e alimentada briosamente no nosso país produz o melhor lote de avantesmas de que há memória.
são muitos e andam aí.
nos noticiários aparecem-nos sob a capa de opinião pública a desflorar estupidez alinhada em frases feitas. gostam de manif's e de slogans. o barulho e a confusão dos ajuntamentos são óptimos para passarem despercebidos. as frases curtas são importantes para quem não é capaz de articular um pensamento mais elaborado.
em frente às Câmaras dizem-se apoiantes da "democrácia" por oposição à monarquia. como se fossem antípodas.
em casa alimentam-se das revistas das cortes. das cortes do Lux e da Casa do Castelo. das cortes de Espanha, de Inglaterra ou da Holanda. na rua cospem na história e dizem-se filhos da "democrácia".
ao contrário de Pacheco Pereira recuso, desde já, a ideia de pobre país o nosso. prefiro pobre o povo que nos calhou em sorte.
um povo que adora o medievalismo da "democrácia" do Marco de Canaveses e da Madeira.
um povo assim não merece o país que somos.
só assim se percebe que tantos já tenham desistido de ser portugueses.
Hoje ser português é ter uma bandeira na varanda, um filho do bloco de esquerda, um desejo de votar em Louçã e uma enorme falta de responsabilidade.
Ser português é acreditar que, apesar de existir uma Constituíção, a última palavra deve caber ao livre-arbítrio presidencial.
Mas são assim as Repúblicas das bananas. sim as repúblicas. e não as monarquias como gostariam de nos fazer crer.

terça-feira, junho 29, 2004

antes fosse

uma senhora com voz de galinhola manifestava-se, como podia, contra a escolha de Pedro Santana Lopes para primeiro-ministro. uma jornalista da RTP decidiu entrevistar a senhora com voz de galináceo. num cacarejar muito típico a ave doméstica repetia, "isto não é uma monarquia, nós não vivemos numa monarquia, Portugal não é uma monarquia. Nós vivemos nisto que se chama...democrácia!"

efectivamente não é uma monarquia. antes fosse. antes fosse.

todos os dias afunda mais

já tinha dito que a imprensa local caminhava alegremente para o lodo. não me enganei. agora os mentideros do Vale do Sousa garantem que um partido estará a tentar juntar dinheiro para abrir um jornal. outros já o fizeram, é o argumento.
quando as coisas são colocadas desta forma, tão despudorada, nem é preciso dizer mais nada.

menos ais, menos ais, menos ais

"Estou há 15/16 anos na Selecção Nacional, pelo que certamente existirão pessoas que já não me podem ver aqui."

Luís Figo

que vá

se Durão barroso é tão mau primeiro ministro, como pintam, não deviam estar todos felizes com a sua partida. ou há alguma coisa que me esteja a escapar.

segunda-feira, junho 28, 2004

ahhh

informam-me agora de que o medo reside no facto de ele vir efectivamente a ser um bom primeiro-ministro, deixando de rastos muitos arautos da desgraça.
Esta justificação para mim basta...é correr com ele JÁ!!!!

ainda que mal pergunte

Santana Lopes é acusado de algum crime contra a humanidade?
tem por hábito o abuso de menores ou a necrofilia?
é visto com frequência no Intendente a aviar doses?
é conhecido pelos seus assaltos a bancos?
não! então qual é o stress?

intervalo...

Portugal, Portugal, Portugal, Portugal, Portugal.
Portugal allez, Portugal allez, Portugal allez, Portugal allez.

o voto nulo

imaginem que um deputado europeu, de qualquer partido responsável, afirmava que não votaria em António Vitorino para presidente da comissão europeia. agora imaginem o Miguel Portas. ora digam lá que um voto nestes rapazes não é um voto nulo.

triste país o nosso

em que uma deputada, Helena Roseta, salta entusiasmada no meio de uma manifestação ululante ao som de: "Durão Barroso és um grande mentiroso".
no exacto instante em que colocavam em causa os votos que a elegeram para o parlamento, a deputada Roseta dava o corpo à sua negação.
mas no entender da lusa esquerda este tipo de manifestação pública não é uma forma de pressionar o presidente da república, esse garante da democracia.

o inusitado aconteceu...

...estou de acordo com Orlando Gaspar:

"Não faz sentido nenhum obstaculizar a saída de Durão Barroso para presidência da Comissão Europeia, pedindo eleições antecipadas"
"o cerne na democracia está na Assembleia da República e esta maioria tem sustentabilidade no Parlamento"


está dito!

quarta-feira, junho 23, 2004

amizade biliar

há amigos que se fazem em tempos de conturbada discórdia. amigos a quem, supostamente, não devemos falar. lembras-te. a nossa amizade começou de uma forma profissional. traçamos os planos para o futuro. de que maneira poderíamos trabalhar juntos no futuro. o futuro nunca chegou. mas ficamos amigos.
hoje estás mais leve. mas continuas grande. não tão grande como esse enorme coração benfiquista. como pode alguém ter no mesmo lugar a maior virtude e o maior defeito. és o verdadeiro gajo porreiro. gosto da forma com que te ganho, sistematicamente, as apostas. e te ganho no bilhar. tu és dois gajos porreiros. tu e o teu irmão. que também perde apostas. e não joga bilhar. e é grande como tu. por dentro e para os lados.
eu gostava de ser um gajo porreiro como vocês. mas não nasci em África, não trago terra vermelha nos pés, nem savanas nos olhos. não gosto das vossas cores, mas admiro a vossa tribo e os ramos mais jovens que dela despontam.

PS (ou será mais sensato colocar outra sigla?):
bem que gostava de saber como vais, agora, conseguir derrarmar a tua bílis sobre o Pinto da Costa

segunda-feira, junho 21, 2004

o que fica do euro 2004?

"faz lá isso mais devagar. tás armado em ronaldo?"

"vão tomar no cu"

A espanhola Cadena Ser fez uma gracinha antes do Portugal-Espanha. Para além de ter galhofado com uma conversa de scolari, gravada sem autorização, decidiu ligar em directo para o seleccionador e estender mais um pouco a brincadeira. Fica aqui a transcrição do telefonema....em directo para toda a Espanha no programa radiofónio de maior audiência.

"PACO GONZALEZ | Senhor Scolari, boa tarde.
LUIZ FELIPE SCOLARI | Quem fala?

PG | É o inimigo
LFS | Quem, perdão?

PG | Sou o inimigo.
LFS | Não entendo.

PG | Quando é que nos vão atacar?
LFS | Você e a sua rádio vão mas é tomar no cu."

eu e 10 milhões de portugueses associamo-nos a este voto sentido do seleccionador nacional português.

um golo cravado no peito do inimigo

o fim-de-semana não podia ter terminado melhor. o carro parado em plena avenida, rodeado de ondas verdes e vermelhas. de gente aos gritos e de sorrisos abertos.
domingo podíamos ter partido em barda para recuperar Olivença. ontem podíamos ter conquistado Castela e Leão.
o meu país será sempre maior do que o espaço que ocupa. o meu país terá sempre um coração maior que o peito.
como todas as vitórias verdadeiras também esta nos foi entregue encharcada em sofrimento. uma vitória a pingar suor frio.
ontem os pés foram aparelhados de asas e não houve cristianos, decos ou figos. foram todos Ulisses. ontem foi o nosso Bloomsday.
ontem foi dia de rebajas. ontem os meninos da Zara perceberam com quantas linhas se cose um fato da Maconde.

o jantar

sexta-feira houve jantar de homenagem a Celeste Cardona, em Penafiel. o prato principal foi arroz de pato. o que só revela por parte da organização muita coerência, uma vez que nos tínhamos reunido para ouvir o canto do cisne.

sexta-feira, junho 18, 2004

opinião livre, responsável e aberta

para alguns dos meus amigos, que não compreendem algumas das minhas opiniões e sobretudo não compreendem a vontade de as expressar, fica a melhor resposta que encontrei para essa perplexidade. Já agora fica a sugestão, "Vida Independente", de João Pereira Coutinho, hoje com o Independente. Não concordo com muitas ideias, não concordo com muitas opiniões, mas estou 100% de acordo com o princípio.

"Só criticamos o que nos interessa. O que mexe, move e comove. Como um pai atento que recebe as vitórias do filho num silêncio de orgulho e só abre a boca quando o desastre desaba no meio da sala. Não é a crítica que mata. É a indiferença.
Cinco anos quebraram essa indiferença. Uma indiferença que é comum à sociedade portuguesa, onde todos falam baixinho para não perturbar o senhor doutor. Percebo. Décadas de ditadura senil apagaram a política das nossas vidas e mergulharam a Pátria num amor doentio pelo consenso. Não admira que, hoje em dia, o exercício opinativo esteja docemente entregue a sopeiras partidárias que inundam os jornais com os recados do patrão. Uma originalidade tipicamente lusitana. E o avesso da crítica livre, responsável e aberta.
"

o que fica do Euro 2004?

"Ele era seguro e frio como um Carvalho"

quinta-feira, junho 17, 2004

mais

mais uma coisa. se o que se passa neste Vale do Sousa não interessa a quem cá vive, como é que vai interessar a quem vive no México e no Canadá.
o que é que temos em comum?
só se for mesmo o atraso de vida, se for por aí estamos conversados.

do Vale do Sousa para o mundo

o sitemeter, o servidor que me permite ter noção de quantas pessoas vão passando por este blog, informou-me de que 13% dos meus leitores estão no Brasil, 1% no Canadá e 1% no México... é muita América para um homem só.
Em sinal de apreço ao meu público brasileiro e em nome de todos os manéis e joaquins do vale do Sousa aqui vai um brindee... ao presi(hic)dente (hic) du Braa(hic)sil...
assim, como assim, não sou deportado e não.

visita de estudo

alguém me explica as visitas de estudo, que no final do ano invadem o norteshopping. o que fazem hordas de criancinhas como bonés coloridos, guiadas por professoras tagarelas.
que aprendem os seres imberbes diante das montras da Sacoor, da Bershka ou da Massimo Dutti.
mais, que fazem as criancinhas sentadas no chão, à porta da FNAC ou Zara, enquanto as professoras procedem ao estudo dos cabides e das prateleiras. será que não capazes de fazer compras sózinhas. se não são porque não arranjam outra companhia, em vez de interromperem a educação de quem quer aprender.
as crianças vão ter muito tempo para visitar os shoppings, com os pais, sozinhas, algumas até neles trabalharão. decerto que o seu crescimento não fica comprometido se não andarem, durante um ano lectivo, de escadas rolantes.

quarta-feira, junho 16, 2004

urbanus est, demitidus fost

""Mais vale ser vermelho por um dia, do que amarelo toda a vida." Foi com esta expressão que Manuel Seabra justificou a sua decisão de se demitir de vice-presidente da Câmara Municipal de Matosinhos e de entregar os pelouros da Habitação e do Urbanismo ao presidente Narciso Miranda."

in Público

porque será que estas divergências entre presidentes e vereadores acontecem sempre com o pelouro do urbanismo?
nunca vimos uma demissão, deste tipo, porque o presidente não concordava com a programação de música contemporânea ou com a falta de apoio a um ciclo de cinema coreano.
é sempre com o urbanismo. será falta de urbanidade ou excesso de urbanizações?

a câmara lota(da)

é para fazer as unhas, s.f.f.

"há bicha nas manicures de Matosinhos. é que vamos ter eleições para o saco de gatos do Porto"

o que fica do Euro 2004?

"não me faças essa cara de Scolari!"

que falta de educação

não gosto, na generalidade, de professores do ensino básico e secundário. há muitas excepções, mas regra ainda continua a ser esta. estes professores constituem umas das piores classes do nosso país. são, invariavelmente, egoístas, zelosos dos seus direitos e um tudo nada relapsos com os deveres.
cada professor tem uma reforma na cabeça. sim, essa e a outra. têm a reforma curricular e a da aposentação no horizonte, sempre que falam. e falam muito. falam sempre. nunca nada está bem. e não é um problema partidário, porque, à esquerda e à direita, muitos são os ministros que tiveram que enfrentar a turba ululante.
tive bons professores? tive. mas só nos anos do secundário. até lá fui uma das vítimas das escolas de periferia, que nenhum professor deseja. aprendi em escolas pré-fabricadas com professores pré-fabricados. "professores" que desejavam ter sido outra coisa e que acabaram agarrados à única saída profissional existente. assim como ontem, também hoje temos hordas professorais a reclamar uma escola, uma turma, um horário completo, como se fosse o direito à vida.
têm os melhores horários possíveis, o melhor calendário existente. ainda assim são vítimas. temos maus professores. muito maus mesmo.
temos menos crianças. menos crianças mesmo. ainda bem. vão ser precisos menos professores e com o passar do tempo far-se-á a selecção natural.
continuaremos a ter maus professores, mas serão menos. logo teremos menos berreiro. sim, porque nós, aqueles que estudaram sem nunca ter tido no horizonte a garantia de um emprego no estado, estamos um bocadinho fartos dos senhores professores.
pelas frases que constroem nas entrevistas televisivas e pelas figurinhas que fazem, espero bem que não seja essa a educação que estão a dar ás nossas crianças.

terça-feira, junho 15, 2004

números para pensar

dois dos mais jovens autarcas do Vale do Sousa, Penafiel e Castelo de Paiva, estão por certo a pensar nos números das eleições europeias em cada um dos concelhos.
Isto porque foram os únicos concelhos do Vale do Sousa onde o poder autárquico perdeu. Poderão sempre argumentar que concelhos PSD como a Maia, Valongo, Vila Nova de Gaia, Baião, Gondomar ou até mesmo o Porto, também perderam. Podem inclusivé argumentar que o bastião marcoense se vergou à força socialista. Ainda assim esta derrota dá que pensar. O PS já está na rua, apesar das divisões, a trabalhar as diferentes freguesias. A recente demissão de Francisco Assis e a precipitação de eleições para a federação distrital rosa poderá ser um curto balão de oxigénio, para a coligação avançar para o terreno e arrepiar caminho.
Uma coisa é certa há uma máquina já a trabalhar, aos soluços, mas a trabalhar. E desta vez a corrida à Câmara Municipal vai ser mais renhida, qualquer atraso no arranque pode significar uma derrota.
Agora ficam os números, que significam o que cada quiser que eles signifiquem:

Penafiel:
PS - 51.1
PSD/PP - 34.9
CDU - 4.2
BE - 2.2

Castelo de Paiva:
PS - 56.3
PSD/PP - 32.6
CDU - 1.9
BE - 1.9

a propósito de Deco e Rui Costa. mas também podia ser a propósito de Fernando Couto e Ricardo Carvalho

"Não tem perdão a obtusidade com que insistimos em Servílio. Só no jogo com o Perú é que desconfiamos do óbvio ululante. Não havia nenhuma afinidade entre alhos e bugalhos, ou seja: - entre Servílio e Pelé. Mas no dia seguinte, todo o mundo enxergou, de repente, outro óbvio, ainda mais estarrecedor: - Alcindo. O tal companheiro de pelé, mais esperado do que um Messias, era o formidável centauro gaúcho.
Notem que estava na cara. Mas ai de nós, ai de nós! Nunca enxergamos o que está na cara. Alcindo treinava com uma saúde, um élan, uma fome, uma sede, uma fúriasagrada. Se pusessem uma paralelepípedo na arquibancada, ele diria, com o dedo apontado para Alcindo: - "Esse é o companheiro de Pelé!". (Nas minhas crônicas, os paralelepípedos têm dedo.) Mas como eu ia dizendo: - o que um paralelepípedo veria, ao primeiro olhar, nós não vimos. E, por fim, ninguém acreditava mais no tal companheiro. Foi preciso que jogassem o Brasil e a Polônia, lá no Mineirão. E o óbvio baixou, de repente, no estádio. Não há mais dúvida, não há mais nada. O jogador que o óbvio escla é inarredável, irrversível, assim na terra como no céu."

Nelson Rodrigues, "A pátria em chuteiras, novas crônicas de futebol", Companhia das letras, Brasil, 1994

a cara da derrota

“Oh meu Deus do céu! Virgem Santíssima! Nós já somos um povo que não faz outra coisa senão perder! Olhem a nossa cara. Reparem: - é a cara da derrota. Afinal de contas, o que é o subdesenvolvimento se não a derrota cotidiana, a humilhação de cada dia e de cada hora? E é uma ignomínia que venha alguém dizer a esse povo desesperado: - “Vá perdendo! Continue perdendo! Aprenda a perder!””

Nelson Rodrigues, "A pátria em chuteiras, novas crônicas de futebol", Companhia das letras, Brasil, 1994

segunda-feira, junho 14, 2004

se é para pendurar a bandeirinha...

os hoolis

nenhuma claque merece tanto o cinismo francês, como a claque inglesa.

"Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L'étendard sanglant est levé (bis)
Entendez vous dans les campagnes mugir ces féroces soldats
Ils viennent jusque dans vos bras, égorger vos fils, vos compagnes
Aux armes citoyens ! Formez vos bataillons !
Marchons, marchons, qu'un sang impur abreuve nos sillons"

a vossa selecção

já aqui tinha expresso que: esta não é a minha selecção. pelo menos enquanto Gilberto Madaíl, Luiz Filipe Scolari e Rui Costa lá estiverem. os três, em áreas tão diferentes como as que protagonizam, são o espelho do pior que Portugal alimenta.
O dirigismo sem nexo, onde o politicamente correcto é o idioma oficial. a vassalagem a espíritos iluminados e incontornáveis, que se afirmam pela provocação e teimosia alarve. a adoração das vacas sagradas, que fazem render um dia de glória toda uma vida, como se de virgens se tratassem.
Portugal é vítima deste triângulo. e ainda que vença o Europeu, nunca deixará de ser vítima destes protagonistas. as nossas frustrações têm rosto e nome.
esperemos pelo dia da derrota derradeira, nesse dia todos os que têm escrito sobre a necessidade de apoiarmos a selecção sairão dos buracos como ratos e desembaínharão as espadas prontas a cortar umas quantas cabeças.
o costume. foi assim que perdemos tudo até agora. só falta mesmo perder a vergonha na cara.

dá cá mais cinco

alguém, que comigo trabalha, hoje perguntou a uma amiga:
- Votaste, ontem?
- Não. Achas? Com o sol que esteve.
- Dá cá mais cinco!

No entanto a bandeirinha continua pendurada na varanda e o cachecolzinho mantém-se esticado na parte traseira do carro.

quarta-feira, junho 09, 2004

portuguesismos

Duas coisas que me irritam profundamente neste país:

- o bacoco patriotismo da bandeirinha nacional pendurada nas janelas. esta descoberta da portugalidade num saco de jornal ou num hipermercado, em nome do futebol.

- as carpideiras do costume que soltam os elogios gastos, velhos e encardidos sempre que morre uma personalidade. durante três dias lá teremos que aturar os crocodilos que ciclicamente saem à rua para exibir a deslavadas lágrimas.

segunda-feira, junho 07, 2004

lições para um jovem príncipe

quando a raínha levantou a mão para desferir um rude golpe, foste brando Hamlet.
pedia-se uma resposta mais vibrante e real. uma resposta feita de mão aberta, larga e generosa. no final sempre podias devolver a deixa ao corpo estendido...
"Que o sono embale a tua alma: nunca haja amargura entre nós,
Só calma"
Raínha, acto III, cena II

Hamlet morreu

"A morte está cansada e assim se encontra
no teu corpo a nudez, lugar de outro repouso"

Fernando Guimarães, "Lições de Trevas", Quasi edições, 2002

não se trai o coração

e a festa terminou. foi um final sereno e pesado. um final de amigos. um fecho de luzes negras, de mãos frias e coração cheio.
equilibrados num fio de luz, dois vultos, um paradoxo. um príncipe e uma deusa. no esguio corpo, lado a lado, alinharam-se as contradições. hamlet, homem, norte, dúvida, morte. diana, mulher, sul, certeza, vida.
enquanto hamlet se consumiu com a dúvida de "ser ou não ser". diana, a deusa, no dia do seu aniversário, dizia a seu pai: " quero correr livre e selvagem, sou quem eu sou e sei quem sou". e foi. e é.
agora que as luzes dos nossos olhos te iluminam, és feliz. e nós contigo.
trair ou não a família consumiu Hamlet. tu só serás consumida no dia em que traíres o teu coração e todos aqueles que nele se abrigam.
quando os holofotes jaziam escuros no chão e tu iluminavas as salas com esse sorriso largo, eu recolhia elogios que tombavam dos lábios alheios. são bonitos e quentes. passarão de agora em diante, e por muito tempo, em rodapé, nos meus olhos cheios de orgulho.

quinta-feira, junho 03, 2004

um cisne... ainda que duvides

a dúvida das dúvidas teatrais fecha o festival de teatro, em Penafiel. e o princípe será como um cisne muito branco. a Diana fará tudo muito bem feito e terei um imenso orgulho. ela, que desliza nas águas, não hesita como Hamlet. sabe o que é. trava guerras para se manter assim, como é. converte inimigos em aliados. e representa-nos muito bem...
Espero-te sábado, pouco antes das dez da noite, de braços e palco abertos

"Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para o espírito: sofrer os dardos e setas de um ultrajante fado, ou tomar armas contra um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo? Morrer... dormir; nada mais! E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne! Que fim poderia ser mais devotamente desejado? Morrer... dormir! Dormir!... Talvez sonhar! Sim, eis aí a dificuldade! Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte, quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa! Porque, senão, quem suportaria os ultrajes e desdéns do tempo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as angústias do amor desprezado, a morosidade da lei, as insolências do poder e as humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno, quando ele próprio pudesse encontrar quietude com um simples estilete? Quem gostaria de suportar tão duras cargas, gemendo e suando sob o peso de uma vida afanosa, se não fosse o temor de alguma coisa depois da morte, região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou, confundindo nossa vontade e impelindo-nos a suportar aqueles males que nos afligirem, ao invés de nos atirarmos a outros que desconhecemos? E é assim que a consciência nos transforma em covardes e é assim que o primitivo verdor de nossas resoluções se estiola na pá da sombra do pensamento e é assim que as empresas de maior alento e importância, com tais reflexões, desviam seu curso e deixam de ter o nome de ação... Agora, silêncio!... A bela Ofélia! Ninfa, em tuas orações, recorda-te de meus pecados!"

William Shakespeare, "Hamlet", Abril Cultural, 1978

e no entanto move-se...na nossa direcção

a Clara sempre vem. vem também o José Pedro. chegarão dúvidas, como chegaram os diplomatas da igreja que nos foram desenhando a geografia. Newton dizia que tinham sido os anjos a dar o impulso à terra para que esta rodasse. serão as mesmas asas a impelir as palavras. a visualização do milagre está marcada para as 15 de sábado, em Penafiel. o colégio do carmo está aberto mesmo aos que não saõ adeptos da pastorícia.

«Do nosso ponto de vista, se há falácia de raciocínio desconcertante entre todas no instinto moderno, dir-se-ia que é a ideia de que “os religiosos” e “os cientistas” estiveram desde sempre em guerra aberta. Esta guerra substancialmente imaginária, efabulada de forma superficial a partir de um número restrito de temas-chave como o geocentrismo, a Inquisição, o horror de aceitar que o homem descende do macaco, ou a crispação recente no domínio da manipulação de gâmetas e embriões, é hoje vista em grande medida como um combate entre o bem e o mal, com a ciência do lado da luz que procura o progresso e a religião do lado das trevas que tentam impedi-lo. Mas, para este cenário fazer qualquer espécie de sentido, era preciso que o nosso mundo sempre tivesse funcionado dentro de balizas de pensamento que só começaram a implantar-se a partir da segunda metade do século XIX.»

Clara Pinto Correia e José Pedro Sousa Dias, "Assim na terra como no céu", Relógio D'Água, 2003

a máquina e as mãos

sábado, Gonçalo M. Tavares vai ler alguns dos seus textos. eu, a Clara e todos os outros vamos escutar os pequenos gestos com que se desenham as vidas de Klaus Klump, Joseph Walser, o senhor Henri e Johana.
às 15 teremos palavras irregulares como pedras, parágrafos incertos e mãos que falam como escrevem.
"Dentro da própria roupa as mãos fazem um intervalo entre o tocar na amante e o segurar na lâmina que mata. As mãos são órgãos susceptíveis de se emocionarem. As mãos não terão apenas sentimentos tácteis, mas também sentimentos mais complexos: como a grande tristeza. Supor que há elementos do corpo que não sofrem nem se exaltam, que apenas assistem, parece um equívoco evidente de uma certa anatomia analítica que vê cada bocado de corpo como louco individual, com o seu mundo próprio. Não há nenhum órgão que possas extrair do corpo, mantendo este vivo, de modo a que do organismo expulses apenas as emoções. Só extrairás as emoções quando eliminares por completo o organismo. A última célula que sobrevive ainda sente e provavelmente pensa."

Gonçalo M. Tavares, "A máquina: Joseph Walser", Caminho, 2004

quarta-feira, junho 02, 2004

quando batem com a testa nos nossos calcanhares

"Nós vivemos a violência dos sons da nulidade
das palavras cujo fogo é um falso artifício"

António Ramos Rosa, " Pátria Soberana seguido de Nova Ficção", Quasi, 1999

não podendo servir um cozido da D. Arminda

"Sou um homem comum
Qualquer um
Enganando entre a dor e o prazer
Hei de viver e morrer
Como um homem comum
Mas o meu coração de poeta
Projeta-me em tal solidão
Que às vezes assisto
A guerras e festas imensas
Sei voar e tenho as fibras tensas
E sou um

Ninguém é comum
E eu sou ninguém
No meio de tanta gente
De repente vem
Mesmo eu no meu automóvel
No trânsito vem
O profundo silêncio
Da música límpida de Peter Gast

Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Peter Gast
O hóspede do profeta sem morada
O menino bonito Peter Gast
Rosa do crepúsculo de Veneza
Mesmo aqui no samba-canção
Do meu rock'n'roll
Escuto a música silenciosa de Peter Gast
Sou um homem comum"

Caetano Veloso, Peter Gast, "Uns", 1983

pouco se escreve

nos últimos tempos pouco se tem escrito por entre pedras. este é um blog para amigos e pra os amigos guardamos o melhor e só o melhor. aos meus amigos não sirvo as palavras amargas que vou coleccionando. para os meus amigos emprato sorrisos e graças despropositadas. se agora escrevesse as palavras que se precipitam instalaria a confusão. se há tanto tempo venho garantindo que entre pedras se escondem e guardam palavras, como explicaria que estas fossem tão ou mais duras que as próprias pedras. agora quero só coisas boas. quero o sol no meu corpo, uma canção do caetano, um cozido em quessus, duas gargalhadas com o jorge. isto sim divido com os meus amigos. palavras não. pelo menos por agora.

terça-feira, junho 01, 2004

quasi parabéns

Ontem as quasi edições comemoraram o seu V aniversário. Foi uma festa bonita. Os pais da jovem editora estavam naturalmente babados. A festa foi bonita. Mas não porque lá estivesse a Bárbara Guimarães. Porque vi muita gnte carregada de sacos cheios de livros. Eu, como cerca de 15 euros enchi dois sacos com:
- "Nenhum lugar e sempre", Rui Namorado
- "Labyrinthus", Casimiro de Brito
- "Obra Poética", Ferreira Gullar
- "Letra só", Caetano Veloso
- "Útero", valter hugo mãe
- "Lições de trevas", Fernando Guimarães
- "Cobrição das Filhas", valter hugo mãe
- "Alvor do Mundo", António Ramos Rosa e Maria Teresa Dias Furtado
- "Pátria Soberana seguido de Nova Ficção", António Ramos Rosa
- "Desassombro", Eucanaã Ferraz
- "Bagatelas", Vitaly Margulis

...é verdade por cerca de 15 euros. é bonito, não é.