quarta-feira, março 31, 2004

Provocações

Esta semana, a propósito do lançamento de um novo jornal no Vale do Sousa (de que falarei mais adiante), discutia com um amigo de ofício sobre a tonalidade do que aqui se escreve. Diz ele que não é possível dizer que os autarcas são maus, que nem tudo vai mal no "reino da Dinamarca", que a provocação não é de todo o melhor caminho a seguir. A prudência e o voto de confiança no bom senso das figuras deverá marcar o discurso.
Com dois exemplos provei-lhe o erro e demonstrei a falta de visão de vários senhores das edilidades.
Quanto ao estilo mais ou menos provocatório deixo aqui um naco de prosa de João Pereira Coutinho.

"Um provocador contesta as coisas de que desgosta com os valores de que mais gosta. É isso que perturba num provocador: o facto dele demolir o que existe com a certeza do que possui. Um provocador é honesto: pensa o que diz e diz o que pensa. Porque não pode ser de outra forma. É como é. Um provocador não é um revolucionário. Mas um reaccionário. No sentido mais puro e mais belo do termo: porque reage à provocação. Com sinceridade. Um provocador é aquele que reage às provocações, provocando. Um provocador só existe porque existem outros provocadores que provocam o mundo e, logo, o provocam a ele. Um provocador ataca para não ser atacado. Magoa para não ser magoado. Diz as verdades para não ser enganado."

segunda-feira, março 29, 2004

A cara

Esta é a cara do ciclo literário. Tem a assinatura de um amigo, a marca de um grande artista plástico: Manuel Casal Aguiar.

O tempo

A falta de tempo e disposição atirou o blog para o abandono e desleixo. A atenção vive agora concentrada em torno de um novo jornal para o Vale do Sousa, um ciclo literário e um festival de teatro. É demasiada coisa a clamar atenção. Até ao encaminhamento dos projectos este será um blog errático.

Poesia

Hoje apresentamos o "Entre Pedras, Palavras" e o seu mais jovem rebento, um prémio nacional de poesia.
A partir de agora, em Penafiel, será dado um importante apoio à poesia, um incentivo em forma de prémio para jovens poetas.
Os pormenores só deverão ser conhecidos lá para Maio, altura em que será celebrado o protocolo que dará corpo ao prémio.

sexta-feira, março 26, 2004

O ciclo vai abrir

O ciclo literário "Entre Pedras, Palavras" (já reparam a imaginação esfusiante que tenho para títulos) arranca já no próximo Sábado. Aqui ficam as datas e autores que visitarão, ao longo de dois meses, Penafiel. Parafraseando Rui Unas, este ano "temos um graaande programa..."

3 de Abril - José Saramago

10 de Abril - José Luís Peixoto

17 de Abril - Frederico Lourenço e Vasco Graça Moura

24 de Abril - Richard Zimler

8 de Maio - Gonçalo M. Tavares

15 de Maio - João Aguiar

22 de Maio - Evocação de Daniel Faria

29 de Maio - Clara Pinto Correia e José Pedro Sousa Dias

Dentro em breve publicarei o cartaz, obra do prof Manuel Casal Aguiar.

quarta-feira, março 17, 2004

A parelha

O descuido tem vindo a adiar este post. É um posto sobre um blog, uma página próxima e inconstante.
Foi o meu primeiro rosto penafidelense e recentemente investiu na blogosfera.
Depois de ter criticado este universo umbiguista e, agora, unilateral, deixou-se envolver pela confessional escrita.
Juntou na mesma linha Job e Ícaro, uma estranha aliança entre a paciência e o mortal arrojo.
Espero que deste triunvirato (José Vinha, Job e Ícaro) saia bem mais do que saiu até agora.
Uma esperança envolta em desafio. Até lá vão passando os olhos pela curiosa parelha, enquanto eu sugiro uma outra....

"Separação de Abraão e Lot (Gn 13)

Se fores pela direita
Olharei em redor
Se fores pela esquerda e descansares
Olharei em redor

O meu olhar há-de acompanhar-te
Como a poeira à volta dos teus pés

Se desceres à planície
E fizeres a tenda com o véu da mulher
Não desviarei o olhar
Não dividirei a túnica

Se fores pelo centro de ti mesmo
Tactearei
Abrirei a mão e estarás próximo
Basta respirares
E olharei em redor"

Daniel Faria, "Homens que são como lugares mal situados", Fundação Manuel Leão, 1998

Philip Guston

Há dias em que me apetece habitar um quadro assim....

segunda-feira, março 15, 2004

Solidariedade

Com o apoio de alguns amigos deverei ter, dentro em breve, uma caixa de comentários com um filtro para boçais. Vamos esperar.

Comentários

A decisão custou muito a tomar, mas a paciência tem limites.
A partir deste momento as caixas de comentários estão encerradas e provavelmente não voltarão a abrir.
Para todos aqueles que visitam este blog, continuará a existir sempre forma de trocar ideias.
Eu sei que paga o justo pelo pecador, mas algumas vezes não há outra saída

Um abraço a todos.

Imprensa local

A imprensa local, no Vale do Sousa, atravessa um dos seus momentos mais críticos. Durante anos habituamo-nos ao nascimento de pequenos jornais, nos meses que antecediam as eleições autárquicas, com o único propósito de atacar violentamente o poder, quando não a oposição.
Depois de alguma acalmia, voltamos à peregrina ideia de que o controlo descarado de um jornal garante a passagem da mensagem.
Infelizmente há um par de projectos jornalísticos que caíram nesse logro. E digo infelizmente porque se estão a matar títulos com um espaço bem definido.
A ideia, que preside a esta morte assistida, é a de que através do esquecimento de factos ou notícias e da sobrevalorização de não-notícias se consegue manobrar a opinião pública num dado sentido.
Personagens que não dominam um meio tão particular, como é o da comunicação social, avançaram para a compra de jornais com um único objectivo, fazer valer um determinado projecto pessoal e político.
A ignorância, que possuem sobre o assunto, levou as caricatas personagens a eliminar todas as notícias que colocassem em causa o projecto que delinearam, numa bem patente atitude censória.
Só que a opinião pública não é estúpida e acaba por deitar ao lixo esses panfletos, em que o culto da personalidade vigora e prevalece sobre tudo o resto.
Alguns desses títulos apresentaram nos últimos tempos consideráveis melhoras, mas são como as melhoras dos doentes terminais, quase sempre prenunciam uma morte mais do que certa.
Por uma razão simples, até os apoiantes da causa gostam de ler notícias sobre a oposição.

Não há bela sem senão

"Não tenham pena. Eu não vou para Bruxelas. Hei-de ir e vir todas as semanas"

Ana Gomes, candidata ao Parlamento Europeu

Injustiça

Aznar não merecia que lhe reduzissem o trabalho a cinzas.

Mulheres e política

No espaço de 24 horas, Ana Gomes e Marcelo Rebelo de Sousa reclamaram por mais participação das mulheres na política, indo ao extremo de adiantar os 40% de mulheres nos órgãos políticos e listas eleitorais.
Eu sou contra.
Considero que a participação não se decreta, nem se define por quotas.
A participação feminina deve ser conquistada e merecida, contrariando o mau princípio de que as mulheres devem ter lugares só por serem mulheres.
Ora vejamos a participação feminina na Assembleia Municipal de Penafiel. A bancada socialista leva de longe vantagem no número de mulheres eleitas, enquanto a bancada da coligação tem uma muito reduzida participação feminina. Mas será que essa presença na assembleia se traduz em intervenções? Infelizmente não.
A maioria das senhoras eleitas raramente participa nos debates. Tomemos por exemplo a deputada da CDU que é literalmente abafada pelo camara de bancada.
Na coligação repete-se o cenário.
No PS o panorama melhora um pouco, no entanto a maioria das deputadas é capaz de atravessar todo o mandato sem abrir a boca.
Eu sei que dirão que há muitos deputados homens que não abrem a boca, mas é por isso mesmo que as poucas mulheres eleitas deviam mostrar serviço, só assim serão reconhecidas na hora de elaborar as listas eleitorais.
Enquanto utilizarem o género como argumento e a apurada sensibilidade como trunfo, para um melhor desempenho, as mulheres continuarão a ter um papel marginal na política local, nacional e internacional.
Nao é afirmando que o conflito israelo-palestiniano já estaria resolvido, se as mulheres ocupassem um maior número de cargos de topo na política internacional, que se faz valer a paridade. Muito menos dizendo que a sensibilidade, que dizem possuir, era suficiente para arrancar um par de beijos de Ariel Sharon, nas bochechas de Yasser Arafat.
Nas telenovelas é capaz de resultar, mas em política nem tudo termina com um feliz casamento.

sexta-feira, março 12, 2004

O seguro

Amanhã Penafiel recebe Telmo Correia (PP) e Ana Gomes (PS). Devia ser obrigatório as cidades fazerem um seguro de cada vez que recebessem "pesos tão pesados". Como diria asterix, esperemos que céu não nos caia na cabeça.

Íris de Inverno

E de repente os dias são maiores. De repente a primavera começa a anexar os minutos e a encurtar o corpo ao inverno, até este expirar o último sopro frio.
E e repente o caminho aclara-se e as margens anunciam o toque dos róseos dedos.
De repente os olhos garços negam a luz, resistem ao equinócio e insistem na sombra.
E de repente não consigo empurrar o inverno, o sol mantem a precipitada recolha, as margens são escuras e os dias curtos. Longamente curtos.

quinta-feira, março 11, 2004

Espanha

Desolação

"áspera é a noite
sem virtude a espera"

"Onde sopra o vento", Luís Soares Barbosa, Quasi Edições, 2004

...mesmo nos dias em que não te vejo

"Pelos teus olhos
vejo, em ti
me vejo, te vejo
em mim"

"Três Poemas de Amor seguidos de Livro Quarto", Albano Martins, Quasi Edições, 2004

quarta-feira, março 10, 2004

A morna conversa em torno das letras

O encontro com Mário de Carvalho foi morno. O carácter pesado que o autor colocoou no discursso não ajudou a animar as hostes.
A graça do livro perdeu-se num discurso fortemente politizado e muito negro.
Não foi o encontro que sonhei e desenhei vezes sem conta.
Foi só o aquecimento para o que está para vir.
Valeu pelos amigos que apareceram.
Valeu pela "entaladela" que o Meu amigo Jorge Baptista deu ao Mário de Carvalho. Num momento da conversa o autor de "Fantasia para dois coronéis e uma piscina" referiu-se a "este país".
O Jorge perguntou-lhe porque é que toda a gente diz "este país", como que colocando o corpinho de fora, como que dizendo: "eu não me responsabilizo por isto". "
- Porque é que não dizem o meu país?", argumentou o Jorge.
Esta atitude de fuga à responsabilidade, que todos possuímos, deixou desarmado Mário de Carvalho.
É por isso, e por muito mais, que o Jorge arrisca a transformar-se numa das pessoas que mais admiro.
Só por isso valeu a pena!

Em compensação nós temos o Avelino Ferreira Torres

"Para as europeias a escolha é Sousa Franco. Para as presidenciais, o PS anseia pela disponibilidade de Guterres, única forma de apresentar uma candidatura com potencial. O PS está agarrado a um discurso velho. O PS não se renova. O PS não se moderniza. O PS não se prepara para ser alternativa. Não são estas boas notícias para a qualidade da democracia em Portugal."

António Pires de Lima

Humor britânico

Na passada sexta-feira, durante a conversa com o escritor Mário de Carvalho, discutíamos o humor inglês e a sua inteligência.
Proféticamente, Mário de Carvalho apontou para um autismo britânico e de todo o império de Sua Majestade, um olhar muito centrado no umbigo, um isolamento que lhes não permite ver o resto do mundo.
Nos dias seguintes percebi como esse autismo é real e dramático.
Um isolamento que faz com as ideias que possuem sejam cada vez mais antigas e ultrapassadas. Um isolamento arvorado em arrogância e poder económico
Factores que constituem a regra do sucesso, mas que como regra adimtem uma excepção.
E nós fomos excepcionais.
Um jogo de futebol jamais mudará essa condição. Continuarão a ignorar a nossa presença, mas nunca mais nos esquecerão.

Sobre os ataques

...
"Homens muito voltados para um modo de ver
Um olhar fixo como quem vem caminhando ao encontro
De si mesmo
Homens tão impreparados tão desprevenidos
Para se receber

Homens à chuva com as mãos nos olhos
Imaginando relâmpagos
Homens abrindo o lume
Para enxugar o rosto para fechar os olhos
Tão impreparados tão desprevenidos
Tão confusos à espera de um sistema solar
Onde seja possível uma sombra maior"

"Homens que são como lugares mal situados", Daniel Faria, Fundação Manuel Leão, 1998

Sugestão do dia



O chef sugere:

- Biff, bem passado.

sexta-feira, março 05, 2004

Tempo

"Tempo
Tempo sem amor e sem demora
Que de mim me despe pelos caminhos fora"

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Livro Sexto", Caminho, 2004

quinta-feira, março 04, 2004

Originalidades

Há muita gente que apenas conheço por palavras. Tal como um rosto reconheço nas ortografias e gramáticas as valas fundas rasgadas na pele, os sinais que ponteiam o corpo, a luz dos olhos serenos, a suavidade dos cabelos tombados.
Assim como os corpos e os odores, também as palavras carregam códigos genéticos, características congénitas, marcas da vida.
É com letras que te desenho o genoma, é com palavras que te materializas. Por isso a ti, como a todos os outros, nunca vos confundirei.
Não te justifiques nem identifiques pois nunca será possível comparar o sol que carregas nas sílabas com os fogos fátuos, que nascem e morrem no instante em que se erguem dos pântanos escuros, lodosos e podres.

e depois...



...depois da festa olhamos em frente.
Hoje num ambiente de hipocrática brancura mostraram-me um horizonte substancialmente cinzento e limitado. Porém há sempre um espaço para a fuga, há sempre uma arcada, há sempre o arco de uns braços abertos à nossa espera. Há sempre amanhã.

quarta-feira, março 03, 2004

A festa e os amigos

A festa foi uma bela festa. A cidade respondeu e encheu os paços do concelho para um sentido: Parabéns.
A festa serviu ainda para homenagear um amigo. Um amigo de coração enorme. Uma daquelas amizades sem idade.
Há muitos anos que se dedica a formar jovens e jogadores. Só um homem com "dois H's grandes", como diria João Pinto, é que pode dar tanto de si a uma instituição e a uma causa.
Eu acredito que muita da qualidade, como seres humanos, dos jovens daquele clube se deve a uma só pessoa: José Casimiro.
Hoje, no momento em que recebeu a medalha, também eu a recebi, aliás foram muitos a recebê-la.
Parabéns Penafiel por ter alguém como o José Casimiro.

Penafiel faz anos. Parabéns



234 anos é obra!

Mágoa

Eu tenho um amigo que não merece ver na televisão tamanho retrato da sua terra.

O nojo

nojo afér. de enojo < Lat. in + odiu, com ódio
s. m., náusea; enjoo; asco; aquilo que inspira asco ou repugnância;
fig., luto; mágoa; mortificação; vergonha; pejo;
ant., dano; prejuízo.

É com um forte sentimento de nojo que olho para o "país dos avelinos", como o classifica Luciano alvarez na edição de hoje do Público.
Nojo dessas personagens tenebrosas que vivem ameaçando quem os questiona e confronta com os seus caciquismos e negociatas.
Nojo daqueles que, olhando para os soldados que comandam, glorificam uma polícia que se tolhe e encolhe.
Um força flácida e barriguda de ideias. Um dispositivo que nunca funciona e no entanto merece vivas e hurras governativos.
Nojo dos políticos que nunca vêem televisão quando deviam. Nojos dos dirigentes que não comentam assuntos internos quando estão no estrangeiro.
Nojo dos líderes parlamentares que não comentam assuntos desportivos, porque eles possuem um peso relativo.
Nojo dos presidentes das ligas que precisam de se conter nas cadeiras para não virarem avelinos.
Nojo dos presidentes das ligas que garantem que a culpa foi da televisão que gravou e difundiu as imagens.
Eu tenho nojo de um país que entrega estes criminosos à justiça desportiva. Eu tenho nojo de um país que se orgulha deste poder autárquico.
Eu tenho nojo de todos aqueles que defendem estes e outros arruaceiros, na rua, nos tribunais, nos parlamentos.
Aguentemos o nojo, porque há mais avelinos com vontade de saltar para a cadeira.

segunda-feira, março 01, 2004

Não esqueçam



É já na próxima sexta-feira, às 21.30 na biblioteca municipal de Penafiel, que recebemos o Mário de Carvalho. Vai ser um fartar de tagarelice.
Está prometida a presença de inúmeras fantasias, coronéis e piscinas.
A não perder, até porque não é todos os dias que recebemos visitas destas.